Atividades econômicas sem responsabilidade social e ambiental estão se tornando obsoletas. Práticas ESG (governança corporativa, social e ambiental) não são "uma moda" porque envolvem o mesmo tipo de transformação que digitaliza negócios e interações pessoais. Baseada na definição de que inovação não é só tecnologia, mas também diversidade e inclusão, a coluna começa uma nova série (ou seção, hehe): ESG na prática. Sugestões podem ser enviadas para os e-mails camila.silva@zerohora.com.br e marta.sfredo@zerohora.com.br
Ajudar a construir ambiente escolar antirracista foi o motivo da criação do projeto João de Todas as Cores, do colégio João XXIII, na zona sul de Porto Alegre.
Liderado pela diretora-financeira e mãe de aluno Danielle Nunes, o programa contemplou na primeira edição, em 2022, 35 bolsas parciais para crianças e jovens pretos, pardos e de origem indígena. Cem se inscreveram e 27 foram selecionados. Até agora, 19 já se apresentaram para o próximo ano letivo.
Daniellle adiantou que entre o final de janeiro e o início de fevereiro, um novo edital do projeto será lançado:
— É consequência de uma política que vem sendo consolidada na escola há cerca de dois anos. No final de 2020, nasceu um coletivo para discutir como combater o racismo no ambiente escolar. Nós, brancos, fomos nos sensibilizando.
Segundo Danielle, um relato tocante foi feito pela mãe de uma aluna negra cuja filha dizia se sentir bem na escola, mas questionou, depois de três anos:
— Por que tenho que ser a única aluna negra na sala?
Danielle passou a estudar como viabilizar a iniciativa, e o edital foi lançado. O João XXIII é uma escola comunitária administrada por uma diretoria e um conselho deliberante (não "deliberativo"). Por isso, todas as ações são discutidas com a comunidade escolar. Segundo a diretora, houve quase unanimidade entre os pais.
— Das quase mil famílias, apenas duas demonstraram contrariedade, até porque a pauta antirracista está fervilhando na escola — detalha.
Atualmente, a instituição tem cerca de 45 turmas e 990 alunos - dos quais só 7% são negros. A meta é ampliar esse volume para ao menos 10%, com dois jovens negros ou de origem indígena em cada turma.
O antirracismo no dia a dia
Márcia Gomes, mãe do aluno Ícaro e professora regente da etapa infantil da escola (na foto acima) é coordenadora do coletivo antirracista. Começou com outros cinco responsáveis por alunos no final de 2020. Atualmente, o coletivo reúne cerca de cem membros da comunidade escolar.
— O grupo não surgiu com o objetivo de oferecer bolsas de estudo, esse projeto é um consequência — afirma.
Uma das primeiras ações foi levantar onde estavam os negros na instituição. O estudo, divulgado para os funcionários em setembro de 2021, é um reflexo da sociedade: apenas 1% dos funcionários negros tinham atuação considerada intelectual. A maioria ocupava "cargos de apoio", como classificou Márcia, responsáveis pela limpeza da escola, por exemplo. Atualmente, a escola reserva vagas em diversos setores para pessoas negras, pardas e indígenas.
* Colaborou Camila Silva