Nem só de vinhos e espumantes vive a serra do Rio Grande do Sul. Os apreciadores das cervejas artesanais, em alta no Brasil e no Estado há alguns anos, também têm opções como a Blauth Bier que, além de grande seleção de rótulos, oferece um passeio regado a história.
Funciona em Desvio Blauth, distrito de Farroupilha, onde no início do século XX se instalou uma madeireira com o mesmo nome, fundada por uma família de imigrantes alemães. Criaram, em sociedade com os Haupt, um empreendimento que foi revolucionário para o turismo gaúcho na primeira metade do século passado: o Veraneio Blauth & Haupt.
Fundado em 1912, o complexo era frequentado por famílias abonadas de várias cidades, principalmente de Porto Alegre. Incluía hotel e restaurante, além de apresentações culturais, atividades esportivas e reuniões sociais ao longo do verão, conta Rafael Haupt, herdeiro e fundador da Blauth Bier.
— Era uma proposta de lazer para as férias de verão, muito comum na Europa na época. É comparável ao que é um resort hoje. Foi algo inovador e, para muitos, é um dos primeiros, se não o primeiro, destino específico de turismo do Rio Grande do Sul — afirma Rafael.
Quando a ida de Porto Alegre até o litoral durava um dia inteiro em estradas precárias, havia uma linha de trem que ligava a Capital a Caxias do Sul em pouco mais de cinco horas. Uma das estações ficava em frente ao "veraneio". Os trilhos originais da ferrovia estão preservados na cervejaria.
O auge foi entre 1923 e 1936, quando teve lotação máxima em todos os verões. Com a melhora das estradas para a praia, começou a perder público. Na década de 1940, enfrentou dificuldades financeiras que causaram o fechamento em 1951. Ficou abandonado por décadas até a intervenção de Rafael, em 2007. Dos 21 chalés originais do hotel, sobrou apenas um, onde hoje é a cervejaria.
— Era sócio de uma incorporadora quando visitei pela primeira vez uma cervejaria artesanal, o que mudou minha vida. Saí de lá já com o projeto e até o nome na cabeça. Comecei a estudar e planejar, até que abrimos as portas em 2015. Sempre carreguei essa nostalgia e essa essência da hospitalidade que existia no Veraneio Blauth & Haupt. Meu desejo sempre foi empreender na região e voltar a atrair visitantes para cá — destaca o empreendedor.
A Blauth Bier produz hoje cerca de 12 mil litros de cerveja por mês, mas a fábrica tem capacidade para produzir até 40 mil. São 13 estilos diferentes. Além da fábrica, ainda há um pub que também serve vinhos e espumantes da região, restaurante com pratos típicos alemães, salão de eventos para até 400 pessoas e o biergarten, um jardim onde visitantes podem consumir ao ar livre apreciando atrações musicais. Aberto todos os dias, o empreendimento recebe aproximadamente 5 mil visitantes por mês.
— Também recuperamos detalhes das construções antigas, e fazemos um tour com os visitantes valorizando a histórica local. Buscamos passar para as pessoas uma nostalgia boa, de qualidade de vida, de contemplação da natureza, de valorização da cultura e de boa convivência. Por meio do resgate do passado, queremos proporcionar novos momentos de lazer — define Rafael.
O empreendedor tem planos mais ambiciosos, que ainda precisam de parcerias para se concretizar. Seu desejo é reabrir um hotel ao lado da cervejaria. Além disso, também vislumbra a abertura de uma "vila temática da cultura alemã", para impulsionar o turismo.
Serviço: a Bier Blath fica na VRS-813, km 8,3, no Desvio Blauth, em Farroupilha, na direção de quem vai do município para Carlos Barbosa e Garibaldi. Cervejaria, loja, pub e biergarten estão abertos diariamente, enquanto o restaurante funciona às sexta-feiras, aos sábado e domingo. De segunda-feira a quinta-feira, o horário é das 13h30min às 18h30min. Na sexta-feira e no sábado, o local fecha às 23h e, no domingo, às 20h.
Essa seção inclui experiências acumuladas ao longo da pandemia e sugestões de leitores. Quem quiser indicar pequenos negócios que se tornam grandes passeios pelas atrações que oferecem, podem mandar pelos e-mails marta.sfredo@zerohora.com.br e mathias.boni@zerohora.com.br, ou deixar aqui nos comentários.
* Colaborou Mathias Boni