Antes do previsto, o governo Bolsonaro colocou nas ruas seu abre-alas do pacote de bondades previsto para depois do Carnaval.
Na sexta-feira, baixou em 25% as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) — inclusive de armas e bebidas, a única exceção foi o cigarro, que segue taxado em 300% — para tentar baixar a inflação e melhorar o ambiente econômico do país ainda premido por preços e desemprego altos.
Ao comentar a medida, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que deve ter "impacto de curto prazo" sobre o IPCA. Guedes insiste que esse não é o objetivo. Na sua versão, a meta seria "reindustrializar o país". Para lembrar, a arrecadação anual estimada de IPI é ao redor de R$ 80 bilhões, e o corte liberaria cerca de R$ 20 bilhões ao ano. É uma soma expressiva, mas insuficiente para "reindustrializar" o Brasil.
— É uma medida de política industrial e não de política inflacionária. Tira mesmo um pouco da pressão dos preços industriais, vai dar uma derrubadinha no IPCA, mas o que vai determinar se vai ter inflação é a atuação do Banco Central (BC) — discursou Guedes.
Especialista em preços, André Braz, discorda sobre a "derrubadinha no IPCA". O coordenador dos índices do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), avalia que não só a medida pode não contribuir para a baixa da inflação, mas acabar "jogando contra":
— A Dilma (Rousseff, ex-presidente) tentou fazer isso, baixou o IPI dos automóveis. E o que aconteceu? A venda aumentou muito, e a alta demanda impediu que os preços baixassem. Não é uma medida que garanta sustentabilidade, vigor e crescimento da atividade. E joga contra, ainda. Na expectativa de segurar inflação, pode dar até um pequeno repique. Se todo mundo sai comprando coisas com IPI reduzido, não adianta o BC subir juro se, do outro lado, o governo joga contra, estimulando demanda enquanto o BC desestimula com a elevação do juro.
Braz pondera que o baixo crescimento da atividade previsto para este ano, agravado pelo impacto da guerra na Europa, além do desemprego ainda alto, compõem um cenário desfavorável à medida:
— Não acredito que vá surtir efeito. É até uma irresponsabilidade do governo trabalhar dessa maneira agora, completamente na contramão do que tem de fazer. Seria melhor trabalhar na redução do gasto público e deixar a campanha eleitoral de lado. O governo está meio perdido.