Em abril, diante de números do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) que destoavam dos dados do IBGE sobre geração de emprego no Brasil, a coluna buscou ajuda para entender o "fenômeno" e se convenceu de que não se tratava de "fraude a la Argentina", embora existissem distorções.
Agora, após revisão de dados no próprio Ministério do Trabalho e Previdência, recriado em julho, o verdadeiro saldo acumulado entre admissões e demissões em 2020 caiu à metade. A criação de postos de trabalho encolheu de 142.690 para 75.883, 46,8% a menos.
A explicação do ministério para a diferença gigantesca foi o atraso no registro das demissões ocorridas no ano passado. Na época, diante das dúvidas de especialistas em mercado de trabalho e de jornalistas, integrantes do governo afirmavam que os dados do Caged haviam sido "aperfeiçoados" e que ainda era possível comparar com o período anterior, mesmo que a base de coleta de dados tivesse mudado.
Uma das mudanças, conforme frisou à coluna Bruno Ottoni, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e coordenador de mercado de trabalho na iDados, foi a troca das informações da Rais para o e-Social. Além disso, passaram a ser computados empregos temporários, o que não acontecia antes.
Como destacou Ottoni, o problema do erro – para dar o benefício da dúvida – estatístico não é matemático ou teórico. Quando um indicador importante não está correto, provoca equívocos de política pública. No caso específico do Caged, números tão positivos fizeram o governo hesitar em retomar as medidas de proteção ao emprego, que permitiram a suspensão do contrato de trabalho e redução de jornada e salário.
Na época do entusiasmo com o "superCaged", o então secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco – hoje advogado-geral da União –, chegou a dizer que "o país está voltando a um cenário de normalidade no mercado de trabalho" no momento que a retomada das medidas que aliviaram a crise de emprego ainda era incerta. Chegou a dizer que estava em avaliação "se devemos ou não lançar mão de novas medidas relativas a momentos de crise".