A certa tranquilidade no mercado nesta quarta-feira, com bolsa estável e dólar cedendo 0,85% em relação ao real não representa redução da turbulência interna. O alívio veio de longe. No dia em que se esperava a alta no juro básico dos Estados Unidos, o que dominou a atenção de investidores foram outros indicadores. O Federal Reserve (Fed, banco central americano) fez o que havia sinalizado: elevou a taxa de referência do intervalo entre 0,75% e 1% para entre 1% e 1,5%.
Em tese, a decisão teria valorizado a moeda do país. Só que, pela manhã, haviam saído outros dois dados: o mais importante índice de inflação dos Estados Unidos teve recuo de 0,1%, e as vendas no varejo diminuíram 0,3% em maio. A combinação abriu a perspectiva de que o Fed modere o ritmo de alta no juro.
– O dólar caiu forte em relação a todas as moedas, e o mesmo ocorreu aqui – destaca João Marcus Marinho Nunes, atento observador da economia americana.
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Com o câmbio muito volátil no Brasil, pode parecer bom para a economia nacional. No entanto, a perda de tônus na recuperação americana não é positiva. Caso os dados de maio – a atualização das estatísticas americanas permite falar do mês passado, enquanto o Brasil apenas conhece os dados de abril – configurem tendência, pode haver revisão nas projeções de crescimento da economia mundial. Para Nunes, apesar de o Fed ter se comportado como o mercado esperava, a instituição “insiste no erro” de avaliar que a economia americana já está em franca recuperação, depois da crise que atingiu seu auge em 2008.
Além de elevar o juro, a instituição quer começar a recolher uma grande quantidade de recursos que injetou no mercado como estímulo monetário. É o que o Fed chama de "normalização do balanço de pagamentos", que deve representar a retirada do mercado de US$ 6 bilhões ao mês. Esse enxugamento vai reduzir o apetite para o risco – onde se situam investimentos no Brasil neste momento.