Além de representar o real poder de decisão em uma das maiores estatais brasileiras, a Eletrobras, por mais de 15 anos, Valter Cardeal foi uma espécie de mentor de Dilma Rousseff quando a então representante do PDT no governo Olívio Dutra assumiu a Secretaria de Energia e Minas do Estado, em 1999.
Hoje, Cardeal costuma ser apontado como o "homem forte" de Dilma no setor elétrico, mas esses papéis já foram invertidos.
Quando Dilma despontou no cenário nacional como uma líder do segmento, foi em boa parte graças à ajuda de Cardeal, na época funcionário de carreira da CEEE. Em seus primeiros tempos na secretaria, Dilma recebia aulas de uma pessoa de confiança de Cardeal. Embora se soubesse da estreita ligação entre os dois, ambos sempre foram muito discretos.
Assim que a atuação de Dilma no Estado a guindou para a equipe de assessoramento do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, na eleição que se seguiu ao racionamento de energia apelidado de "apagão", Cardeal se tornou um de seus principais auxiliares. No início do governo Lula, assumiu a diretoria da Eletrobras e chegou a ocupar interinamente a presidência. Mas como era uma área loteada para o PMDB, não pôde ficar no cargo.
No âmbito da Lava-Jato, Cardeal se consolidou como alvo na delação de Delcídio Amaral, que apontou o "triunvirato" de Dilma no setor – Erenice Guerra, Silas Rondeau (PMDB) e Antonio Palocci – com apoio de Cardeal e Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro. Segundo Delcídio, esse grupo teria intermediado uma propina de R$ 45 milhões durante a definição do consórcio formado para executar a obra da hidrelétrica Belo Monte. Os citados afirmam que Delcídio mente.
Interlocutores de Cardeal costumam descrevê-lo como uma pessoa polida mas implacável na busca de seus objetivos ou no cumprimento das missões a ele confiadas. E, acima de tudo, como alguém que gostava de operar fora do radar. Mesmo no período em que foi presidente interino da Eletrobras, procurava manter o perfil baixo, evitando disputar protagonismo com Dilma ou com o ministro de plantão do PMDB.