
Quase um ano depois da enchente que deixou quase todo o Centro Histórico de Porto Alegre inundado, cresceu a consciência sobre a necessidade de a Capital se aproximar do conceito de "cidade-esponja". Em tese. Na prática, ainda é mais fácil propor e executar o corte de árvores do que limpar os postes do lixo tóxico enroscado.
Cidades-esponjas exigem áreas em que a água da chuva "é filtrada pela vegetação e permanece nesse solo por um determinado momento; depois, é absorvida pela rede de tubulação", como disse a porto-alegrense Taneha Kuzniecow Bacchin, professora de projeto urbano na Universidade Técnica de Delft, na Holanda.
Na Porto Alegre em que muitos veem nas árvores mais risco do que oportunidade, há dificuldades institucionais e burocráticas para a remoção de uma fiação que, além de inútil e fonte de poluição visual, ainda ameaça vidas e o fornecimento de energia sem cortes.
Podas adequadas, como já ensinou a bióloga Lilly Lutzemberger, filha do ecologista que mostrou o caminho há décadas, são "remédio", desde que não se tornem "mutilação adoecedora." Ávores não são intocáveis, portanto. Mas também não podem ser bode expiatório.
Com a mesma dedicação conferida a projetos para propor e executar podas e cortes, seria possível remover os obstáculos para a retirada dos fios. Mas isso exige determinação e persistência, não discurso populista. Nesse caso, vale mais gastar horas de negociação do que usar minutos da atenção pública que não serve para nada a não ser gerar mais exasperação.
Como fazer podas ambientalmente corretas
O ponto de vista da bióloga Lilly Lutzemberger, inspirada no exemplo do pai, José Lutzemberger
"Uma das grandes lutas de meu pai, o saudoso ambientalista José Lutzenberger, foi a defesa da arborização urbana."
"O problema começa bem antes do plantio. Muitos fatores precisam ser levados em conta: a escolha de espécies adequadas para cada localização, sejam calçadas, canteiros centrais de avenidas, praças, parques; o espaçamento necessário; altura, forma e envergadura da copa e o tipo de raiz."
"Esses cuidados, além de gerarem árvores bem posicionadas, robustas e saudáveis, minimizam a necessidade de podas destrutivas depois."
"Então, quando necessária, uma poda bem-feita e com conhecimento de causa é remédio, não mutilação adoecedora."
"Um manejo correto é mais barato e seguro do que a crônica bagunça e devastação que vemos nas nossas ruas. Árvores corretamente plantadas e mantidas, quebram e caem menos, ocasionando menores danos e prejuízos."
Leia mais na coluna de Marta Sfredo