
De tanto em tanto chega a pergunta: qual livro você me aconselha a ler? Nunca sei responder. Consigo dizer quais os livros que me encantaram. Quais os livros de não ficção que fizeram minha cabeça dar voltas. Consigo falar de livros, ou autores, que mudaram minha forma de perceber o mundo, que educaram minha imaginação.
Vez que outra, até acontece a mágica e faço a ponte do encontro feliz entre o livro e seu leitor. Mas é apenas sorte, o encontro com o livro certo para o momento do leitor é demasiado pessoal. Mesmo as obras consagradas, aquelas que ninguém sai o mesmo depois da leitura, precisam encontrar o leitor na hora certa de lê-los. Não há outra saída senão aprender a garimpar livros.
Na minha opinião, o livro certo é aquele que você não consegue parar de ler, aquele que você espera para se reencontrar quando a vida dá folga. Aquele que nos faz roubar tempo até do sono. Aquele que amamos mesmo quando nos perturba. O livro certo existe, a questão é onde ele está. Existem curadorias, grupos de leitura conjunta, que são um bom início para quem ainda não se orienta sozinho nas estantes.
Borges recomendava peneirar os livros pela idade. Deixar o tempo separar a literatura dos panfletos. Não dá para levar ao pé da letra, pois nos deixaria sem a força do contemporâneo. O conselho exagerado avisa que se produz obras que envergonham o papel e a tinta. Os insuportáveis livros de moda intelectual. Aqueles que trombeteiam o que é correto louvar a cada momento.
Existem livros que precisam ser domados antes de entrarmos na aventura de suas linhas. Persistimos até descobrir quem está domando quem. E se o livro for apenas chato? Ou é bom e você não está na estação propícia para recebê-lo. Como saber? Não existe regra. Dominar esse momento crítico é o que faz alguém ser um leitor suficientemente autônomo. A dificuldade com a leitura é também uma dificuldade com a solidão dessa encruzilhada. Ultrapassado esse portal o jogo vira. Os bons livros conversam com todos os outros livros. Não vai te faltar “gente” nem assunto.
Afora o deleite, a leitura ainda é o mais completo exercício cerebral. Se você não está lendo, provavelmente é porque não está com o livro certo. Vá em busca dele.