
A minha geração, os Baby Boomers (nascidos entre 1945 e 1960), teve uma infância com pouca supervisão parental. Nossos pais raramente sabiam o que estávamos aprontando e como aprontávamos. Depois de nós, e no crescendo, a infância passa a ser mais e mais protegida.
Os pais atuais sabem, ou deveriam saber (no sentido do ideal), onde estão seus filhos a cada momento. As crianças deixaram de andar sozinhas nas ruas, são levadas e buscadas. Além de deixá-las dentro de casa, a casa ficou menos acessível a experiências. As crianças, mesmo as grandes, já não sabem nem ligar o fogão.
Não vou julgar qual geração fez o certo, eu mesmo não sei como estou vivo. Quero frisar o prejuízo cognitivo, oriundo do divórcio da exploração e da experiência, que a superproteção trouxe.
Minha geração ia para escola sozinha. Quem anda por conta própria na rua é obrigado a desenvolver o senso de orientação e de responsabilidade. Concordo que não é mais possível, estou apontando o preço que pagamos por isso.
O mau uso das conquistas da revolução digital prejudicou tanto os jovens que obscureceu os problemas gerados pelo cuidado excessivo. Viver apenas em ambientes controlados deixou as últimas gerações infantilizadas.
Aliado a isso, qualquer tarefa que remotamente lembre trabalho infantil é evitado. Os jovens deixaram de fazer tarefas domésticas, de cuidar dos irmãos mais novos, e mesmo ajudar com o animal de estimação. Não estou sugerindo mandá-las carpir um lote. Brincar é coisa séria e necessária para os pequenos. Ensaiam nos seus mundos em miniatura o que lhes espera ao crescer. Critico a atitude atual da passividade das crianças em apenas serem servidas. Cria-se uma condição artificial de nobreza, como depois reclamar que os filhos não fazem nada?
Para quem nunca age, o mundo parece mágico, a comida surge, a roupa reaparece limpa na gaveta. Por alguma razão louca, acreditamos que não intervir no mundo real ajudaria alguém a crescer. As pessoas só amadurecem na experiência da responsabilização por algo, nem que seja o cuidado consigo mesmas. Acordem seus filhos para o esforço que cada ação necessita, ou elas vão acreditar que vieram à vida a passeio.