Sábado, dia 20 de junho, foi um anoitecer quente para essa época do ano em Vacaria. Um cliente entra em um supermercado para compras. Como estava sem máscara, o gerente pede que ele a coloque, ou então que retire-se. O cliente rejeita ambas sugestões. A discussão segue e o cliente puxa uma faca e desfere dois golpes no abdômen do gerente. Este reage com dois tiros no agressor.
O drama estilo velho oeste terminou no hospital. O cliente morreu e o gerente, felizmente, passa bem. Mas a questão é: o que leva alguém a um ato extremo para evitar uma máscara?
As evidências que a máscara previne a dispersão do vírus são claras. Porém, muitas pessoas, como nosso infeliz cidadão vacariense, teimam em não usar. O que essa atitude diz delas?
Quem também se fez essa pergunta foi o psicólogo Pavel S. Blagov. Ele recrutou 502 americanos adultos e aplicou uma bateria de perguntas. Mesclava questões sobre medidas básicas de proteção, incluindo o uso da máscara, com outras que indicavam traços de personalidade.
Cruzando os dados, obteve que as pessoas com altos traços de narcisismo, psicopatia e maquiavelismo são as que menos aderem as recomendações sanitárias. O leitor perguntará: então quem não usa máscara é psicopata?
Calma, são indicativos de traços de personalidade. Isso pode resultar em um leque de possibilidades, que vai de uma misantropia leve, um mero ermitão, até uma verdadeira personalidade antissocial e criminosa.
Acho precipitadas as conclusões com amostragem baixa, mas a pesquisa deixa-nos pensando. O falecido de Vacaria tinha antecedentes por ameaça e crime de trânsito. Ou seja, um comportamento no espectro da tendência antissocial. Essas pessoas que só pensam em si, não fazem nada para a coletividade, tampouco sentem empatia com o sofrimento alheio.
Ainda faltam ingredientes neste caldo. Pouca escolaridade pesa muito, e o oposicionismo à ciência, que é uma escolaridade ao avesso, conta ainda mais. No caso dos homens, a masculinidade frágil é decisiva. Acreditam que para parecer bem homem – note que a dúvida é do próprio sujeito – tem que evitar a máscara. Não querem passar por medrosos. O uso revelaria fraqueza, considerada algo feminino, na cabeça dessas mentes confusas quanto a sua identidade viril.
Pensem a respeito. É uma oportunidade de conhecer a índole e a civilidade dos vizinhos e conhecidos. Está na cara.