A nova versão da novela Renascer é diferente da original. Exatamente como a versão atual da Seleção Brasileira. As duas não me empolgam pelos mesmos motivos: elenco e direção.
Na versão de 1993, o coronel José Inocêncio, que cravou um punhal no pé de Jequitibá e virou o maior plantador de cacau da Bahia, era Antônio Fagundes. Seu maior inimigo, o coronel Belarmino, da fazenda ao lado, era o José Wilker, dono de um bordão sensacional. E lá pelo meio da trama apareceu o Tião Galinha, um matuto que tinha uma esposa linda e passava a história toda querendo "enricar", era o Osmar Prado. A direção foi do Luís Fernando Carvalho, um cara que resolveu fazer cinema nas novelas da Globo, nos anos 1990. Chefe bom, funcionários bons, resultado ótimo.
A "geração Enzo" dirá que isso é saudosismo puro, e ela não está errada. Saudade só existe porque foi bom e isso é autoexplicativo. A questão central é que a instituição Seleção Brasileira, nos dias de hoje, é só saudade. Cadê o novo Taffarel, o novo Romário, os novos Ronaldos e o novo Rivaldo? Nem vou citar o pessoal da Copa de 1970, porque aí seria apelar demais. Nosso problema tem nome e só não vê quem não quer: safra.
A camisa segue a mesma, as cinco estrelas acima do escudo são nosso maior orgulho, mas o nível caiu muito na comparação com nós mesmos. Neste sábado (6), nas quartas da Copa América, o Uruguai entra como favorito. Alguém lembra quando isso aconteceu pela última vez?
A Seleção só ganhou Copas com protagonistas. No plural. Hoje, temos um. Só um. Que na Era das redes sociais e do mundo dos perfeitos é mais avaliado pelo que faz fora de campo. Sim, o Neymar é melhor que todos os outros jogadores brasileiros. Sim, o Vini Junior não tem qualidade, nem estilo de jogo capaz de liderar a Seleção. Ele joga no contra-ataque.
O Real Madrid tem o maior e mais letal contra-ataque do mundo. A Seleção Brasileira vai jogar no contra-ataque? Os chatos que falam que "a amarelinha pesa e todos tremem", os chatos que repetem "só o Brasil é pentacampeão" vão aceitar um time fechadinho, sofrendo e jogando bola no Vini? Sinceramente, acho que não seria uma má ideia.
Na brincadeira do "Mano a Mano" o Brasil não é superior a várias seleções. Argentina, França, Portugal e Inglaterra são quatro na ponta da língua. Aqui entra o diretor. Carlos Alberto Parreira tinha o mesmo peso que Dorival tem agora: 24 anos sem ganhar a Copa.
Ao longo das Eliminatórias chamou de volta o Dunga, quase enterrado vivo depois da eliminação em 1990, achou o Mauro Silva, no Bragantino, fechou o quarteto do meio-campo com o Zinho e assim a Seleção foi aprendendo a se defender muito bem. Parreira também foi teimoso, é verdade. Ouviu o Zagallo, que tinha uma bronca com o Romário, e só chamou o artilheiro do Barcelona na última partida. Mas chamou.
Os puristas daquela época, alguns ainda vivos, dizem que a Seleção de 1994 foi a que jogou o futebol mais feio. Malas! Feio é não ganhar a Copa há 24 anos, e, para mim, um guri que nunca tinha festejado o maior dos títulos, aquela disputa de pênaltis foi mais bela que a cena final de Renascer, quando José Inocêncio, finalmente, abraçou o filho João Pedro, rejeitado a história inteira, com amor.
Querido Dorival, com esses atores a tua trama não vai fazer sucesso. Muda o roteiro, reescreve as cenas, chama outros atores. Assim como a novela, o futebol é uma obra aberta e mudar, muitas vezes, não é só questão de estilo, mas pura necessidade.
Fecha a casinha, Dorival! Depois da Copa América, nos amistosos contra os grandes europeus, coloca o Neymar acionando o Vini e não esquece do Endrick, tá? Já ouviu falar em renovação de energias em casa? Então, tem casacos de grifes espanholas, francesas e inglesas que ninguém aguenta mais ver no armário mais vitorioso do futebol mundial. Como diria o coronel Belarmino, com aquela voz grave do Wilker:
— É justo, é muito justo, é justíssimo!