Na linha oposta à desesperança no Equador, o Paraguai tem, a partir da próxima terça-feira, quando um novo e jovem presidente toma posse em Assunção, a melhor oportunidade de deixar para trás a imagem de um entreposto de muamba que elevou a corrupção a política de Estado.
Para os brasileiros que só conhecem o Paraguai pelas compras de quinquilharias em Ciudad del Este, o pequeno vizinho sofre com o estereótipo de exportador de maconha e cigarros clandestinos, mas a chegada ao poder de Santiago Peña faz brotar a ideia de que está surgindo aqui do lado um parceiro disposto a brecar trambicagens, complicar a vida do crime organizado e se tornar uma locomotiva de desenvolvimento no coração da América do Sul.
Aos 44 anos, Peña venceu a eleição por uma margem de 15 pontos sobre seu adversário mais próximo. Economista com mestrado pela Universidade de Columbia, nos EUA, adepto de teses liberais, Peña foi diretor do Banco Central e do FMI, além de ministro da Fazenda, cargo no qual fez surfar a popularidade ao promover taxas de crescimento de fazer inveja ao resto da América Latina.
Sensato, centrado e autodefinido como um defensor do livre mercado mas com sensibilidade social, Peña defende uma presença forte do Estado em educação, saúde e segurança, três áreas nas quais o Paraguai, como de resto todo o continente, passa vergonha. Apesar do currículo vistoso, ele também guarda fantasmas no armário - o principal deles a aliança com o ex-presidente Horacio Cartes, empresário denunciado por corrupção nos EUA. Peña também se elegeu pelo Partido Colorado, que controla a vida paraguaia, para o bem e para o mal, há mais de um século, com pequenas interrupções.
Em contrapartida, o economista de fundo conservador é um modelo de político racional, moderno e pragmático, algo raro no continente hoje. Não chuta os adversários ideológicos, defende o Mercosul e a estabilidade política e jurídica para atrair investimentos, respeita Lula e anuncia que reatará relações com a Venezuela. Logo de saída, ele terá a missão de renegociar com o Brasil o acordo de Itaipu, que completa 50 anos neste domingo. Embora historicamente Itaipu seja tratada no Paraguai como uma varinha mágica para resolver problemas internos, Peña até agora mantém um discurso equilibrado quanto às negociações.
Sua preocupação central em vender uma nova imagem do Paraguai é também um bom exemplo para os vizinhos. Ao longo de décadas, o Brasil vem sendo castigado pelo estereótipo externo de um refúgio para bandidos procurados, prostituição e cerveja barata, onde políticos corruptos incentivam garimpos e a destruição da Amazônia. Como se sabe, percepções não mudam assim de uma hora para outra. Mas o Paraguai tem agora um nome e uma estratégia para reverter as más impressões e o curso da história.