
A BR-290 é uma estrada que corta ao meio o Rio Grande do Sul, da Fronteira ao Litoral. Por ela, passam cerca de 25 mil veículos por dia e transita grande parte das exportações e importações do Brasil para Argentina e Chile, e vice-versa. É uma via vital para o Rio Grande do Sul e o Brasil. Em cerca de 600 quilômetros entre Uruguaiana e Eldorado do Sul, é também uma vergonha.
Como não cansa de levantar há anos minha colega e amiga Rosane de Oliveira, a BR-290 já deveria ter sido duplicada há muito tempo. Está esgotada, esclerosada, dilacerada, esburacada e, frequentemente, congestionada pelo tráfego intenso ou porque ocorreu mais uma tragédia sobre rodas, um acontecimento quase diário, aliás.
Nesta rotina macabra, são dezenas de vidas perdidas a cada ano. Em 3 de março passado, foram mais três, em um choque entre um Palio de Rosário do Sul e um Toyota argentino. Morreram dois brasileiros e uma adolescente argentina de 13 anos que viera ao Brasil para passar as férias com a família e encontrou aqui a incúria, a desatenção e os constantes adiamentos em obras de infraestrutura.
Em fevereiro, rodei 11,4 mil quilômetros por estradas de Brasil, Uruguai, Chile e Argentina, algumas delas em paragens bem movimentadas ou inóspitas. Disparado, sem termo de comparação, o trecho mais perigoso, uma verdadeira roleta-russa, foi a BR-290 entre Uruguaiana e Eldorado do Sul. Em Paso de Los Libres, na outra margem do Rio Uruguai, basta se atravessar a ponte internacional para começar a pista dupla. No lado brasileiro, nada.
Apesar de anos de apelos de lideranças políticas gaúchas e de vozes sonoras como a de Rosane, pouco se fez para a duplicação da BR-290. Em 2024, 10 anos depois de iniciada a obra, entregaram 13,5 quilômetros no município de Pantano Grande. Toda a estrada precisa ser restaurada e duplicada urgentemente, mas no trecho mais crítico, o que antecede o encontro com a BR-116 em Eldorado do Sul, um mísero quilômetro está duplicado.
Como recordou recentemente Rosane, Lula prometeu com todas as letras, em compromisso gravado, duplicar a estrada até o fim de seu mandato, daqui a menos de dois anos. A menos que produza uma mágica, escancara-se mais uma vez como governos funcionam no Brasil. Recolhem impostos aos borbotões, e entregam quase nada em obras que possam de fato mudar a vida das pessoas. O governo Lula, como todos numa já longa linhagem no Planalto, é bom de promessas e de distribuir dinheiro arrecadado dos impostos, numa tentativa de comprar popularidade. Mas obras que salvem vidas e deem alento estrutural para a economia, uma iniciativa que deveria ser elementar em qualquer governo, ficam para as calendas ou para a providência divina.