
O sucesso do América-MG nesta temporada está longe de ser casual. Por trás, há um projeto bem desenhado para o clube tanto na parte administrativa quanto dentro de campo, sob o comando de Lisca. Contratado em janeiro, o técnico gaúcho ganhou do presidente Marcos Salum uma missão única: recolocar o time na Série A. Mesmo que o Estadual estivesse à feição, com a crise do Cruzeiro e o começo vacilante do Atlético-MG, sob o comando de Rafael Dudamel, Lisca nunca mudou o foco da tarefa de recolocar o clube na elite.
Nesse contexto, a Copa do Brasil veio como um prêmio extra bem generoso se levarmos em conta apenas o aspecto financeiro. A seguir, conheça um pouco mais dos passos que fazem esse América-MG surpreender o Brasil e endurecer a vida do Inter nesta quarta de final.
Metade do orçamento
Caso se classifique à semifinal, o América somará R$ 17,6 em premiações na Copa do Brasil. Uma quantia significativa para gigantes nestes dias de pandemia. Para o América, no entanto, pode-se dizer que é uma fortuna. O valor representa praticamente 50% do orçamento do clube, que prevê receita operacional líquida de R$ 35,6 milhões.
O plano desenhado para 2020 previa R$ 5,7 milhões com premiações como essa da Copa do Brasil – o equivalente a chegar às oitavas. Ou seja, o América já superou suas próprias expectativas.
Gastos com futebol
A estratégia do clube é muito clara: contratar pouco, mas certo, e apostar com força numa categoria de base responsável por revelar nomes como o centroavante Fred e o meia Wagner, lançados em 2003, e que precisava voltar a ser profícua. Se recuarmos no tempo, chegamos a nome como Tostão, que surgiu no Coelho no começo dos anos 1960 antes de brilhar no Cruzeiro e na Seleção, Éder, que saiu de lá para jogar no Grêmio em 1977, aos 17 anos, Euller, revelado em 1988, Palhinha, em 1991, e Gilberto Silva, promovido em 1999 e, três anos depois, penta com a Seleção.
Lisca recebeu, até a quarentena, nove jogadores: os atacantes Rodolfo, Felipe Augusto e Léo Passos, o meia Alê, o volante Rickson, o goleiro Victor Hugo e os zagueiros Eduardo Bauermann, ex-Inter, Joseph e Anderson. Por outro lado, iniciou a Série B com 12 garotos da base no grupo.
Para a segunda parte da temporada, vieram o goleiro Matheus Cavichioli, campeão gaúcho pelo Novo Hamburgo, o meia Guilherme, ex Cruzeiro e Atlético-MG, e o centroavante Lohan, 25 anos e 1m91cm, destaque do Botafogo-PB. O zagueiro Messias, 26 anos, voltou depois de empréstimo ao Rio Ave, de Portugal. Aliás, Messias é um dos principais jogadores formados recentemente pelo clube. O gasto mensal do clube como futebol é equivalente ao que o Inter paga para quatro dos seus principais jogadores.
Pelo orçamento, o América estimou em R$ 1,7 milhão, em média, como custo de todo o departamento profissional. É uma folha, portanto, adequada ao padrão da Série B.
Planeta América
O próximo passo do América nesta sua retomada de espaço em Minas Gerais já está definido. O clube erguerá o Planeta América, um CT com 10 campos, hotel, área de lazer e capacidade para abrigar todas as categorias do clube e o futebol feminino. O projeto, na verdade, é a ampliação do atual CT, o Lanna Drumond, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O espaço passaria dos atuais 79 mil metros quadrados para 160 mil metros quadrados. O dinheiro para a largada da obra está garantido pela construtora mineira MRV, que já é parceira do Atlético-MG na construção de sua arena. A MRV ficaria com uma fração do terreno do América, onde construiria prédios.
O clube tem outros negócios com a parceria, de onde viria outra parte da receita. Um terreno em Contagem e a sede social em BH foram negociados coma MRV, que ergueu condomínios e destinou parte dos lucros ao América. Uma invasão em área contígua ao Lanna Drumond, no entanto, necessitou de ação na Justiça e atrasou o início das obras, que estavam previstas para se iniciar em janeiro. O prazo para finalização é de três anos, e o custo é estimado em R$ 30 milhões.