
Era para ser mais uma noite de sexta-feira, ainda que uma noite absolutamente especial por conta da cobertura da maior premiação do cinema mundial. Mas eu não fazia ideia do que estava por vir. Ao contrário. Eu me concentrei em comprar alguns equipamentos que faltavam para a cobertura: um adaptador para o celular, um fone de ouvido para as entradas da RBS TV. Assim, com essas preocupações mundanas, acabei demorando para voltar ao hotel para tomar banho e me preparar para a atividade de trabalho daquela noite. Era um evento promovido pelo Museu da Academia, entidade responsável pelo Oscar. Eu havia estado naquele local na noite anterior e pude ver um auditório lotado aplaudindo e vibrando com a cena do cachorro, e a performance sublime de Fernanda Torres, confrontando os agentes da ditadura militar.
O produtor Rodrigo Teixeira contou, depois, numa entrevista pra mim, para GZH, que dava pra ver as apresentadoras da noite com lágrimas nos olhos, no palco, ao seu lado. E, de fato, uma delas disse no microfone o quanto Ainda Estou Aqui havia tocado seu coração. O fato é que a noite seguinte seria a específica sobre filmes da categoria internacional e a presença do diretor Walter Salles era muito aguardada.
Como eu disse no começo desse texto, eu cheguei um pouco atabalhoada, pois haviam passado quatro minutos da hora prevista para o início da sessão. Quando, então, me deparei com um burburinho e identifiquei a presença de uma assessora brasileira, achei que se tratasse da presença do Rodrigo Teixeira ou da Maria Carlota, produtores nossos, que concorrem com Melhor Filme. Quando olhei um pouco mais de perto e vi, primeiro, Andrucha Waddington, eu entendi. Ela estava entre nós. Ela, a deusa. Nossa divindade, capaz de personificar esperança de um país: a atriz Fernanda Torres. Dona de um carisma indiscutível. Eu realmente não sabia por onde começar. Me aproximei. Nervosíssima. Ela ali, plena. Expliquei que era jornalista, brasileira, e pedi uma foto. Ela sorriu, aquele sorriso cativante, e disse: "claro, me dá aqui". Eu, de novo, perplexa, entreguei o celular pra ela. Sorrimos. Uma, duas, três fotos. Até o cara que estava atrás de nós sorriu. Foi uma sensação de pisar no céu e não conseguir saber o caminho de volta pra terra. Perguntei se ela gravaria com os repórteres e gentilmente ela explicou que não, era apenas uma presença de prestígio ao filme, à equipe e à Academia. As luzes se apagaram. O evento iria começar. Eu ainda sem conseguir raciocinar, não tive capacidade de achar meu lugar. Sentei na primeira cadeira que vi, reservada às equipes das produções. Acho que era da Letônia. Eu fiquei zonza.
Na sequência, todos sentados, quando apresentado à plateia, Ainda Estou Aqui foi muito aplaudido. Mas o grande momento da noite foi quando Walter Salles contou que, sim, Fernanda Torres estava naquela sala de cinema. De surpresa. Ela, a nossa estrela maior. Walter disse que ela elevou o filme, por tanto talento que trouxe à obra. E disse que ela foi capaz de fazer todos os do elenco pessoas melhores. Fernanda foi ovacionada. Ela sentou-se de volta. Aí, a equipe do filme se levantou para receber os aplausos. E Walter concluiu: "essas são as pessoas que foram elevadas pela Fernanda". O público inteiro se encantou. Foi lindo. Emocionante. Que noite! Viva o cinema brasileiro. Viva Fernanda Torres e o Brasil.