
Após a conquista inédita da estatueta dourada do Oscar para o Brasil, o diretor de Ainda Estou Aqui, Walter Salles, e os protagonistas do longa, Fernanda Torres (Eunice Paiva) e Selton Mello (Rubens Paiva), participaram de uma entrevista coletiva nesta segunda-feira (3), em Los Angeles.
Salles contou os bastidores sobre o discurso no Oscar, após o anúncio de que o longa brasileiro havia ganhado a categoria de melhor filme internacional.
No palco, ele não encontrou as notas que escreveu. Ainda assim, colocou os óculos — mesmo sem ter o que ler — e improvisou o discurso. Ele afirmou que pretendia finalizar a fala com "Ditadura nunca mais", em português mesmo, o que não ocorreu.
Salles ainda enalteceu a figura de Eunice Paiva, que "ensinou a lutar sem perder a capacidade de sorrir". Além disso, reforçou que regimes autoritários como a ditadura militar, abordada no filme, acabam sendo destruídos e somem, ao contrário da arte, que "sempre sobrevive".
Destacou também o caminho para a divulgação do filme. Para ele, o "boca a boca" foi o que disseminou o longa, já que ele tinha que "falar por si".
— Em cada país a gente teve um abraço e um representante do cinema independente — disse Salles.

Fernanda elogia Mikey Madison
Indicada a melhor atriz, Fernanda Torres elogiou Mikey Madison, 25 anos, que acabou vencendo a categoria por sua atuação em Anora, filme que conquistou quatro estatuetas. Ela pediu aos brasileiros para não atacarem a jovem.
— O Brasil é muito apaixonado, mas queria pedir para só mandarem amor para Madison. Aquela mulher é muito legal — disse Torres.
Após a vitória da jovem atriz, brasileiros fizeram comentários nas redes sociais, inclusive na conta oficial da premiação, apontando o descontentamento com o resultado.
"Medo" de não ganhar
Fernanda admitiu que Walter e ela tinham "muito medo de não levar o Oscar para casa" e disse que ficou feliz com o diretor subindo ao palco e representando o filme e o cinema nacional.
Salles, por sua vez, disse que o prêmio é de todos os envolvidos na produção e na produção cinematográfica brasileira.
— O cinema brasileiro vale a pena e foi premiado ontem — acrescentou.
Neste sentido, Selton Mello reforçou a importância da nova geração ir às salas de cinema prestigiar o filme, o que pode despertar um interesse pelos trabalhos anteriores dos atores e do diretor.
Memória da família Paiva
Mais do que o prêmio, Fernanda Torres celebra o fato de a obra ter levado a história de Eunice para o mundo.
— Eu tive a sorte de ser o cavalo dela e me apresentar dessa forma ao mundo: com a grandeza da Eunice — destaca Fernanda.
Ela destacou ainda que o filme ajuda a enaltecer a memória dos integrantes da família Paiva.
— Hoje a família Paiva voltou à vida e nunca nos esqueceremos. Eles sempre estarão aqui por causa da literatura e do cinema — disse.
Na mesma linha, Selton Mello afirmou que interpretar Rubens Paiva "foi uma honra".
— Fazer o Rubens foi uma honra e tanto. É um homem que foi levado de casa e assassinado pelo Estado. E eu dei corpo a esse homem, eu trouxe ele para viver de novo. Quando acabou o filme eu falei: "meu Deus, esse filme é o corpo do Rubens que nunca voltou" — disse.