
Escrevo este texto depois de uma noite insone, sem energia elétrica, na companhia dos mosquitos e da indignação. Sim, dormi com ela. A indignação. Falo por mim e por milhares de gaúchos sem luz há mais de 20 horas.
No fim da tarde da última segunda-feira (31), Porto Alegre, mais uma vez, sucumbiu ao temporal. Sucumbimos todos. Alagamentos, quedas de árvores, caos no transporte, cortes de luz. Tudo de novo.
Eu estava no Mercado Público quando começou a ventania. Deu para sentir a angústia nas bancas, como se fosse uma pessoa, ali, parada, preocupada com a chuva entrando sem pedir licença e com o rugido do vento incontrolável.
Já sei, já sei: "nenhuma cidade no mundo estaria preparada para lidar com uma tempestade como a que atingiu a Capital". Ventos de 110km/h? Impossível de lidar. A culpa, veja bem, é da força da natureza, eles dirão.
O que sei é o seguinte: prestes a completar um ano da grande enchente de maio de 2024, não aprendemos nada. Ou melhor: aprender, até aprendemos, mas não colocamos em prática.
Porto Alegre e o Rio Grande do Sul não estão preparados para as mudanças climáticas e muito menos para os eventos extremos.
A Defesa Civil enviou as mesmas mensagens de sempre ao longo do dia. Burocráticas e genéricas. Todas mais ou menos assim: "Chuva e vento intensos, raios, granizo e alagamentos. Val. Por 3h. Emerg. Ligue 190/193".
E aí? Não teria sido o momento de emitir o alerta que bloqueia a tela do celular? A meteorologia vinha chamando a atenção para os riscos.
E as companhias elétricas? A CEEE Equatorial, mais uma vez, nos deixou na mão. Já sei, já sei: foram chamadas equipes extras, estavam todas de prontidão para agir, só que muitas árvores caíram.
É sempre a mesma história.
E nós? Sem luz para viver e trabalhar. No bairro Menino Deus, onde moro, não precisa nem chover para isso acontecer. Os cortes já são corriqueiros. É assim mesmo. O cidadão que se vire.
Cansei. Cansamos.