Dias depois daquele tsunami que varreu o leste da Indonésia em 2004, uma força-tarefa partiu em busca de sobreviventes nas ilhas mais distantes, algumas delas candidatas ao desaparecimento por estarem numa altitude menor. Numa dessas ilhas, com um cadastro de 1,2 mil habitantes, os prenúncios eram trágicos: havia resíduos da enxurrada devastadora até o pé da montanha. A surpresa ficou por conta da ausência de mortos. Todos tinham se recolhido para o alto da colina e de lá assistido, intactos, à onda colossal. Um velho pescador foi apresentado como herói, com seu relato original: "Ao chegar à praia no amanhecer, encontrei o mar recuado como nunca e com um cheiro muito forte de algas. Corri para a aldeia gritando para que todos se refugiassem na montanha. Felizmente todos conseguiram fugir a tempo". Quando pediram-lhe explicações, ele resumiu: "Recuar, o mar recua todos os dias, mas não com aquele jeitão de quem está indo embora. Além disso, havia aquele cheiro que eu já senti duas vezes, e até parece que o mar está revirando as tripas, e então achei que o melhor era não ficar parado para ter certeza!".
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Palavra de médico
Esses primitivos que somos
A capacidade humana de arquivar a percepção dos sentidos é bem reconhecida
J. J. Camargo
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