Dois meses e cinco dias após serem montados, os acampamentos bolsonaristas erguidos em frente a quartéis das Forças Armadas em todo o Brasil começam a ser retirados. Na maioria dos casos, a remoção é feita pelas polícias militares. Em Brasília, a determinação é que o Exército remova as barracas situadas em frente ao QG da instituição, chamado popularmente de "Forte-Apache".
Em Porto Alegre já não são vistas barracas e nem manifestantes na Rua Padre Thomé, contígua ao QG do Comando Militar do Sul (CMS). Simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado em outubro na sua tentativa de se reeleger, permaneceram ali dia e noite pelos últimos 65 dias. Pediam intervenção das Forças Armadas para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entoavam hinos, canções militares e rezas, de forma ininterrupta, em looping, por vezes embalados por um caminhão de som cujo ruído incomodava quem precisava trabalhar na região.
Na manhã desta segunda-feira (9) nenhum manifestante estava no local. Foram dissuadidos a ir para casa, pela BM. Em outras regiões do Estado, a Brigada Militar começou a retirar os acampamentos. É o que aconteceu em Tramandaí (Litoral Norte) e Alegrete (Fronteira Oeste), onde policiais militares negociaram a saída dos militantes bolsonaristas. Até o momento não foram registrados incidentes.
Em Brasília a retirada dos acampamentos deve ser feita pelo Exército, confirmam generais.
É uma forma de mostrar respeito ao novo governo. Demorou? Sim. Há várias razões para isso. A começar pelo fato de que até 10 dias atrás o Ministério da Defesa era composto por gente escolhida por Bolsonaro, que simpatiza com a causa dos militantes acampados. Como se sabe, nas Forças Armadas a rejeição a Lula é maciça. Grande parte dos manifestantes nas barracas é formada por militares da reserva e seus familiares, mas militares da ativa também faziam incursões de apoio aos manifestantes anti-Lula, churrascadas, celebrações e juras do tipo "o ladrão não sobe a rampa". Não é fácil mudar esse cenário em dias.
Lula subiu a rampa, foi empossado e, inconformados, bolsonaristas invadiram e vandalizaram no fim de semana as sedes dos três Poderes. Foi a gota da água, que ajudou a cúpula militar a reforçar a decisão de remover os acampamentos da porta dos quartéis. Pesa também a sugestão dada pelo novo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, de que o Exército encabece essa desmobilização. Na noite de domingo (8) os acampados foram avisados que terão de sair nesta segunda-feira (9). Por bem ou por mal. Muitos já começam a deixar o local.