A notícia de um novo complexo residencial e comercial de R$ 220 milhões e usando a estrutura de uma antiga fábrica do 4º Distrito, em Porto Alegre, chamou a atenção dos leitores e ouvintes da coluna. O projeto terá capacidade para circulação de 4 mil pessoas e contará com um galpão gastronômico e um boulevard de dois quilômetros que ligará a região ao bairro Moinhos de Vento. A primeira fase do empreendimento será lançada em janeiro e a segunda, em dezembro de 2022. Estão previstos 500 empregos diretos, além de outros 800 a mil indiretos. Para saber mais detalhes do complexo, o programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, conversou com o CEO da ABF Developments, construtora e incorporadora que está tocando o projeto. Confira:
De onde surgiu esse projeto para o 4º Distrito?
A gente sempre gostou de regiões revitalizadas, em processo de desenvolvimento. E esse terreno, a gente comprou em 2012. Então, já tem nove anos. Ele passou por várias transformações, o Brasil também se transformou bastante. E o 4º Distrito vem evoluindo. A gente, nesse período, desde a compra do terreno até a aprovação do projeto, estudou muito. Nós praticamente visitamos o que tem de interesse em termos de revitalização no mundo. Fomos a Miami, Barcelona, Copenhague, temos várias referências, mas estamos mantendo a alma, o espírito do 4º Distrito, pois temos coisas muito interessantes. A posição geográfica do 4º Distrito, entre o Moinhos de Vento e o Guaíba. A questão do patrimônio histórico, a gente gosta bastante. O 4º Distrito, pelo patrimônio histórico, todo esse caldo cultural que tem ali faz com que ele seja um bairro único em Porto Alegre. Tem alma.
Agora, com perspectiva também de um novo projeto urbanístico. Aliás, a ideia de vocês é lançar a primeira etapa no início de 2022?
Exatamente. Nós já estávamos com esse projeto em andamento. Agora que se sabe que terá esse novo plano-diretor para a região. Mas a gente vai lançar no primeiro trimestre a fase 1 e a fase 2 a gente quer lançar até o final do ano, de acordo com o desempenho dessa primeira fase.
Lançar e começar a obra já?
Exatamente.
Veja a entrevista em vídeo, onde o diretor também explica as imagens do projeto:
São muitos empregos, né?
Sim. É uma obra de grande porte, um valor geral de vendas (VGV) de R$ 300 milhões, um investimento de R$ 220 milhões. É um empreendimento bem disruptivo na questão de arquitetura e design. Ele é escalonado, é um projeto diferente. Tem jardins virados para o pôr do sol do Guaíba.
O fato de ser escalonado consegue dar uma exposição maior de todos os andares para luz solar, para a vista?
Exatamente. O terreno é muito privilegiado. É um terreno de esquina, tem 50 metros pela Avenida Voluntários da Pátria e 200 metros pela Almirante Tamandaré. Então, a gente brinca que, quando estamos no Litoral, é 250 metros frente para o mar. Aqui, será 250 metros frente Guaíba. Hoje, estamos vendo a valorização de estar em contato visual com o rio. Tem o Embarcadero, o próprio Cais, reforça mais isso. É uma coisa que nas cidades da Europa essas regiões são muito valorizadas, e o crescimento em direção ao mar, que é o caso de Barcelona, Copenhague, Oslo.
Estive com o prefeito Sebastião Melo e o governador Eduardo Leite para Europa, quando eles fecharam a South Summit para Porto Alegre. E visitamos Barcelona — o senhor morou lá — e eles nos explicaram que foi depois das Olimpíadas de 1992 que começaram a ver que o mundo iria estar olhando para lá. Então, passaram a questionar que cidade eles queriam mostrar para o mundo. E se deram conta de que Barcelona estava virada de costas para a água, que é algo que traz tanta riqueza para cidade.
Com certeza. Barcelona é uma cidade com a população parecida com a de Porto Alegre. Ela é uma boa comparação. Ela tinha a cidade amuralhada e cresceu em direção oposta ao mar. Parecido com Porto Alegre, que foi crescendo em direção oposta ao Guaíba. Depois, com as Olimpíadas, houve revitalização de Barceloneta, da região do porto. Esse foi um episódio importante. E depois, em 2005, com a abertura da Diagonal, foi até o mar, com o @22. E toda essa região hoje é muito nobre em Barcelona.
As autoridades que nos receberam lá falaram o número de pessoas que trabalham no @22. É impressionante a quantidade.
Pois é. Hoje essa região tem o maior volume de construções novas de Barcelona. E as grandes empresas de tecnologia estão todas nessa região, como a Apple. Ali, o desenvolvimento aconteceu. Porque o resto de Barcelona é todo construído, então é aquela região que está dominando, é o polo econômico de crescimento. Eles falam que ali seria o Vale do Silício da Europa. E eu acho que dá para guardar uma semelhança com o 4º Distrito, com o Instituto Caldeira, com as empresas de tecnologia.
Aliás, já está definido que o nome do projeto de vocês será 4D Complex House?
Exatamente.
Vamos contar o que tem no projeto. É um complexo residencial, comercial, mas vamos dar uma dimensão.
A gente tem ali um galpão de patrimônio histórico preservado. São 2 mil metros quadrados que, no primeiro pavimento, será um Food Beer Hall, com espaços gastronômicos, com duas ou três âncoras e operações pockets de alimentação. Estamos anunciando até janeiro as primeiras operações que vão se instalar lá. São operações bem legais. Com isso, o 4º Distrito vai ter um polo gastronômico efetivo. Esse galpão era um galpão industrial, era uma fábrica de vidros, então tem toda pegada industrial, com concreto aparente, ferro.
A estrutura vai ser mantida? É uma fábrica de mais de cem anos?
Exatamente. Essa fábrica fabricava garrafas, isso lá no início do século passado. Foi uma fábrica bem importante no 4º Distrito. E até estamos fazendo todo o levantamento histórico, contratamos um historiador, e ele vai estar disponível nos próximos dias com toda a história da fábrica e um pouco da história do 4º Distrito, que é muito bacana. Tem várias indústrias importantes ali. Ali, nós teremos apartamentos de 17 a 35 metros quadrados. São apartamentos compactos. Tem algumas unidades "garden", com terraço olhando para o Guaíba, que é graças ao escalonamento. Nós vamos ter "rooftops". Um com piscina e borda infinita, que vai ser em um andar intermediário, e vai ter um segundo "rooftop" com fogo de chão, espaço gastronômico, e a completa infraestrutura para as pessoas que vão morar lá, com espaço coworking, sala de ginástica, academia. E no segundo pavimento do galpão são salas comerciais com foco no coworking, onde pessoas podem trabalhar. Algumas salas vão ser vendidas. Esse é o projeto da fase 1. São em torno de 430 apartamentos, 30 salas comerciais, e as operações gastronômicas nós teremos o galpão, uma praça interna, que vai abrigar mais algumas operações. O galpão é junto à calçada, e vai ter muita permeabilidade com a rua. Vai ocupar uma parte do espaço público. Ele estará funcionando no final do ano que vem. A obra será entregue em 2025, e o galpão estará funcionando no final do ano que vem. E a parte mais interessante, que é o que a gente viu nesses lugares que a gente foi, é que a rua vai ser completamente urbanizada. A rua vai estar no mesmo nível da calçada. Vai ter um boulevard, que vai ocupar uma parte da pista de rolamento, com bastante verde e vegetação.
Esse boulevard é importante de detalharmos. Aqui, temos outros empreendimentos que usam o termo "boulevard", quando eu noticiei, pessoal achou que era um shopping. Mas é uma via, correto?
Isso. Seria um parque linear com arborização e espaços para sentar e estações para crianças, estações para exercícios, ciclovia. Hoje estamos conversando com a prefeitura, existe uma pré-aprovação, e nós contratamos uma empresa de urbanismo de São Paulo para desenvolver esse boulevard ligando o 4º Distrito ao Moinhos de Vento. Um dos problemas que apareceu nesses vários estudos do 4º Distrito é a ruptura da região pela Avenida Farrapos, que acabou não permitindo o desenvolvimento daquela região entre a Farrapos e a Voluntários da Prata, que é onde existiam as maiores áreas que chamam de quadras rápidas, que é onde um empreendimento como nosso transforma a região. Ali que está o grande potencial de desenvolvimento do 4º Distrito. E necessitava essa conexão. Então, é isso que vamos fazer com esse boulevard. A ideia é que façamos esse boulevard em fases, nós faríamos a primeira. A gente está negociando com a prefeitura para ver até onde nós vamos fazer. E também que ele incorpore bastante o verde, que tem bastante no Moinhos de Vento, até o 4º Distrito, que é uma região industrial que carece de verde. A ideia, também, é que ele mude um pouco a questão da mobilidade. Nós vamos privilegiar, olhando já para frente, quarteirões ocupados por pedestres. A nossa missão seria fazer esse boulevard por fases — e a prefeitura vê como ela contribui — até a Praça Maurício Cardoso.
Quando eu falei isso, pessoal ficou imaginando o que teria nessa estrutura de dois quilômetros. Pessoal ficou curioso.
É muito inovador para Porto Alegre isso. Tomara que a gente consiga fazer um bom projeto e que seja algo pioneiro para Porto Alegre em termos de urbanismo. E olhando para o 4º Distrito de um novo jeito, pensando na maneira que as pessoas vão se deslocar. Tem até a questão de Glasgow agora, foco em sustentabilidade, pessoas mudando para carro elétrico. A gente acha que muitos moradores não terão carro. Hoje já tem muitos jovens que nem querem ter carro.
Ouça também no programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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