No ano passado, nos momentos decisivos, faltou comando técnico e entendimento do que significava voltar a ser campeão gaúcho. O Inter já ganhou a América e o Mundo, e nesse sentido um Estadual parece piada. Mas tudo é contexto e momento histórico.
Eduardo Coudet não entendeu isso. Seguiu uma cartilha insensível de poupar aqui e ali, transmitindo aos jogadores aquela ideia de condenado ao êxito. Por ser melhor, o Inter voltaria a vencer. Mas não é assim no mundo real. Nada cai do céu. O Inter encarou o Gre-Nal e, especialmente, o jogo em Ijuí, contra o São Luiz, como finais de Copa. Isso mostra irresignação. É como se não aceitasse perder o Gauchão. Não era assim no ano passado.
Talvez não vença, claro. O Grêmio está contratando e, mesmo que esteja um passo atrás na montagem da equipe, pode perfeitamente manter a hegemonia em um clássico, se ele voltar a acontecer. Tem sido assim, vale dizer.
Fato é que Roger transmite aos seus jogadores, com atitudes, mesmo exageradas, a importância deste Gauchão. Reclama de cobrança lateral, de cartão, embarca no clima maluco de complô. Foi advertido. Na vitória sobre o São Luiz, disse até que o conjunto da obra da arbitragem teria ajudado a causar a lesão de Alan Patrick. Claro que não: o 10 do Inter se machuca sozinho. Nem houve choque.
D’Alessandro deu longa entrevista falando de arbitragem antes do jogo, mas não se trata disso propriamente, e sim de mostrar aos jogadores o quanto a instituição precisa impedir o octa do Grêmio.
A imprensa, involuntariamente, acaba ajudando na retórica de construir uma guarda alta o tempo todo, ao abrir espaço demais para criticar as críticas infundadas do Inter. É uma tática conhecida. O Grêmio de Felipão fazia muito — e bem — isso nos anos 1990.
Após o Gre-Nal, o Grêmio preservou titulares contra o Pelotas. Jogou na terça, ok, um dia de diferença a menos, mas na mesma Arena do clássico. O Inter jogou na quarta-feira, um dia a mais, mas com viagem longa — levou força máxima a Ijuí. Não segurou ninguém. Queria ganhar, ainda mais após o vacilo do Juventude, para se aproximar de uma enorme vantagem nos mata-matas: decidir em casa.
Ganhou de 3 a 1 e agora basta vencer o Monsoon para jogar o Juventude na vida do Grêmio na semifinal, tomando Caxias ou Ypiranga para si.
O Inter é melhor? No ano passado também era, mas perdeu. Pode até não ganhar de novo este ano, mas seu técnico mostra todos os dias querer muito mais do que desejava Coudet. O primeiro objetivo — escapar do Juventude na semifinal e decidir em casa — está perto de ser alcançado, salvo fiasco contra o Monsoon. Para interromper tão longa série como a do Grêmio, é preciso mais do que talento. Tem de ter alma. E Roger sabe disso, para além da sua capacidade na casamata.
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