Lançado em 2003, o projeto do anexo do Theatro São Pedro correu o sério risco de nunca chegar a ser. Com seus 18 mil metros de área construída, dois teatros e espaços confortáveis para ensaios e oficinas, o Multipalco parecia maior do que o orçamento do governo do Estado, maior do que o interesse dos investidores e maior até do que nossa própria capacidade de sonhar um futuro para a cidade.
A inauguração do Teatro Simões Lopes Neto, em 2025, marca a conclusão do Complexo Multipalco como foi ambiciosamente sonhado por Eva Sopher, mas a obra estaria parada até hoje se não fosse o empenho de três pessoas e de suas operosas equipes: o governador Eduardo Leite, a secretária de Cultura, Bia Araújo, e o presidente da Fundação Theatro São Pedro, Antônio Hohlfeldt. A cidade (e o futuro) agradecem.
A decisão de batizar o novo teatro com o nome de Simões Lopes Neto (1865-1916) honra a memória de um escritor que, ao longo dos últimos cem anos, nunca deixou de atrair a admiração dos leitores ou o interesse dos pesquisadores – entre eles, Augusto Meyer, Aldyr Schlee, Luís Augusto Fischer e Jocelito Zalla, para citar apenas quatro de quatro diferentes gerações.
O que nem todos os leitores de Lendas do Sul e Contos Gauchescos sabem, mas talvez imaginem, é que um intelectual de província como Simões Lopes Neto, no início do século 20, não conseguia sobreviver apenas de literatura e jornalismo. Durante muito tempo, foram as peças despretensiosas encenadas no palco do Theatro Sete de Abril, em Pelotas, que garantiram parte importante do seu sustento. A literatura pode ter garantido sua posteridade, mas foi o teatro que ajudou a pagar as contas.
Essas e outras histórias sobre a vida e a obra do autor que nasceu rico, em uma estância, e morreu pobre, em uma casinha alugada, começaram a vir a público apenas nos anos 1940, quando o jornalista Carlos Reverbel (1912-1997), seu primeiro biógrafo, deu início às pesquisas que resultariam no livro Um Capitão da Guarda Nacional (1981).
Como simoniano de primeira hora, Reverbel sempre acreditou que o escritor pelotense merecia todo tipo de homenagens e reconhecimento. O que ele nunca seria capaz de imaginar é que um dia sua mulher e o velho capitão acabariam vizinhos de porta. Por uma dessas casualidades imprevisíveis da cartografia afetiva de Porto Alegre, que aproxima Goethe de Castro Alves e Olavo Bilac de Erico Verissimo, o novo Teatro Simões Lopes Neto fica bem ao lado do Teatro Oficina Olga Reverbel.