
Há absurdos da União, que fazem qualquer um perder a confiança na justiça.
Suzane von Richthofen foi presa por matar os pais, o casal Manfred e Marísia von Richthofen, em 2002, em um bairro nobre de São Paulo. É um dos crimes mais bárbaros e torpes do país, que chocou a opinião pública.
A mando de Suzane, que cobiçava a herança, o então namorado Daniel e o cunhado Cristian Cravinhos golpearam com barra de ferro a cabeça das vítimas.
A mentora do plano diabólico, condenada a 39 anos de prisão pelo duplo assassinato e atualmente cumprindo pena em regime aberto, ganhou uma pensão do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no valor de R$ 52.993,30. O montante acabou sendo creditado enquanto estava confinada, entre 2002 e 2004.
Ou seja, paradoxalmente, Suzane recebia pensão dos genitores que ela mesma mandou executar.
Só no Brasil testemunhamos essas monstruosas falhas da fiscalização. Só no Brasil uma assassina é beneficiada pelo seu crime.
A Receita Federal corre atrás do prejuízo. Procura cobrar a dívida e garantir o ressarcimento aos cofres públicos.
Dificilmente se verá a cor do dinheiro.
É óbvio que Suzane alega que já gastou a quantia.
Só no Brasil uma assassina é beneficiada pelo seu crime.
É óbvio que a Justiça Federal enfrenta dificuldades para descobrir o paradeiro da devedora. Seu endereço é um enigma. O mais constrangedor da nossa burocracia é que jornais, tabloides e sites conseguem encontrá-la, menos os agentes do governo.
Ela sempre aparece na mídia, por um estranha bandidolatria, num culto às personalidades fora da lei, e costuma ser fotografada em vários municípios do interior paulista — Angatuba, Bragança Paulista, Águas de Lindoia, Atibaia e na Riviera de São Lourenço.
É óbvio que ela não vai deixar nenhuma conta na reta, nenhum bem com seu nome.
É óbvio que jamais ocorrerá a devolução.
Após a ordem do Supremo Tribunal Federal, as buscas patrimoniais nos sistemas Bacenjud, Renajud e Infojud para tentar bloquear contas bancárias, veículos e imóveis de Suzane deram em nada. Não existiu a localização de qualquer patrimônio para implicar penhora.
A novela resultará numa Dívida Ativa da União, e seu nome será incluído nos cadastros de inadimplentes, como o Serasa.
É óbvio que essa pendência vai prescrever depois de cinco anos, e Suzane ficará novamente com a ficha limpa, como se o fato jamais tivesse acontecido.
O que também foge da explicação racional é como ela cursa Direito numa faculdade particular, auxiliada pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), um programa mantido com recursos públicos, direcionado a estudantes que não possuem condições de arcar com os custos.
Ela se enquadra no perfil de estudante carente? De que maneira a sua dívida não compromete a renovação da bolsa?
De tanto conviver com a impunidade, conhecemos o fim da história.
É tudo tão tristemente óbvio no Brasil.