
Na vida há um ciclo incontestável:
A paixão emagrece.
O amor engorda.
A separação envelhece.
A independência rejuvenesce.
Quando você está apaixonado, fica sem apetite, finge trabalhar, não conclui nenhuma tarefa. Dedica-se exclusivamente a pensar na pessoa amada, a querer se encontrar com ela, a reprisar os diálogos e elogios.
Na hora do almoço ou do jantar, você cisca o prato.
É uma dieta forçada, um jejum involuntário. Alimenta-se apenas da sua monomania.
A idealização não deixa espaço para a realidade. Não há regras, só passeios intermináveis, reviravoltas, aventuras e surpresas.
Nesse faz de conta, nesse sumiço de si mesmo, nessa greve de existir, é possível perder de 2 a 5 quilos — especialmente nas semanas iniciais, quando o cérebro despeja doses generosas de dopamina, serotonina e adrenalina.
Já no casamento, você relaxa. Desperta da hibernação dos sentidos. Tenta tirar o atraso das calorias. A intimidade consolidada traz o apetite de volta. Você acredita ter conquistado de vez a confiança — e com ela, a liberdade para reger os talheres em paz.
Estudos mostram que, em média, os casados ganham entre 4 e 6 quilos nos primeiros anos da relação estável. Recompõe-se o que se gastou na paixão, e de quebra se adicionam algumas anilhas à massa abdominal. Amigos em longo casório, quase todos, têm uma barriguinha saliente, o tanque da prosperidade.
Motivos? Conforto, rotina compartilhada, refeições em casa, sobremesas divididas, assaltos à geladeira de madrugada, menos pressão estética — e a sensação de ter um álibi para os excessos.
Come-se o que se gosta, o que o outro gosta, o que ambos gostam. É uma confidência mútua de sucessivas degustações.
Na separação, principalmente quando ainda se ama, vem o luto da quimera. Muitos se isolam e se distanciam do ritmo dos hábitos. O sofrimento pela ausência e pela decepção causa envelhecimento. A aparência se desgasta: o espelho é evitado, o pijama vira uniforme prisional, as visitas rareiam, as cortinas se fecham.
Esse tempo de sombras e breu dura até o discernimento surgir: entender que a ruptura foi livramento. Que era melhor se separar. Que o destino o protegeu, antes que você tocasse o fundo do poço da renúncia, da submissão e da privação.
Ao atingir esse pico de consciência — essa sabedoria do desastre —, o separado abre as janelas, recupera o amor-próprio, a autonomia, a independência. Recomeça a sair, a se enturmar, a cultivar amizades e a saborear horizontes imprevisíveis.
E então se remoça, recobra a vitalidade da adolescência.
Repetindo:
A paixão emagrece.
O amor engorda.
A separação envelhece.
A independência rejuvenesce.
É a gangorra dos sentimentos, a sanfona das ilusões e desilusões que o corpo experimenta — apesar dos efeitos artificiais das canetas de emagrecimento, em moda hoje em dia, que bem podem maquiar e embaralhar essas fases naturais.
Nada é definitivo. Nem a leveza, nem o sobrepeso. Nem as asas, nem a âncora.
Viver é alternância.