
As cestas de Páscoa de antigamente tinham um charme artesanal e afetivo que se perdeu no tempo.
Eram montadas nos lares, secretamente, com enfeites e doces caseiros: ovos pintados à mão, coelhinhos de tecido, biscoitos amanteigados em formato de cenoura, docinhos de leite condensado enrolados com embrulho colorido, pães de mel com cravo e canela, amendoins caramelizados, balas de coco, trufas, pudim no potinho e bolinhos confeitados.
Sentíamos o calor da mão de quem cozinhava, a guloseima fresquinha, recém-saída da panela, o carinho das vésperas e dos sonhos.
Os pais renunciavam à publicidade pelo mistério, com um suspense bem forjado e oculto no mundo adulto. Ajeitavam a surpresa em cestos de vime, forrados com guardanapos bordados ou papel crepom e celofane. Guarneciam as bandejas de modo igualitário, peça por peça, item por item, para não gerar ciúme entre os irmãos.
A prole vigiava o raiar do sol, a manhãzinha do Domingo de Páscoa com expectativa. O coelho entregaria o mimo em algum lugar incógnito da casa. Ela deveria procurar, rastrear o esconderijo, abrir as portas dos armários e as gavetas, espiar debaixo das camas e das mesas, revirar as almofadas do sofá, mexer nos entulhos da garagem, nos baldes do tanque da lavanderia.
O bando expedicionário cantava em uníssono, de preferência com saltos e pinotes:
“Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim? Um ovo, dois ovos, três ovos assim...”.
Pegadas indicavam os caminhos para o arrebatamento, para o susto, para o sorriso trocando os dentes de leite.
Naquela época, há quatro décadas, dávamos mais atenção ao gesto do que ao conteúdo. Não existiam a atual disputa de marcas, a demanda por brindes e presentes, a obsessão por personagens conhecidas do universo infantil.
As cestas personalizadas e neutras desabilitavam a concorrência e a inveja.
Prezávamos o sentido religioso da ressurreição de Cristo — hoje as crianças nem mais sabem se o momento se refere ao nascimento ou à morte de Jesus.
Reverenciávamos a fertilidade e o início de uma nova vida, representados pelos ovos e pela figura do coelho.
A cobiça vem apagando as pequenas delícias da família. Uma caixa de bombons não emociona mais. Já estamos completamente indiferentes à data, exigindo o tamanho cada vez maior do produto.
Os pais gastam o que não têm, sofrem com as chantagens e birras, compensam a culpa e a sua ausência com o consumismo.
O que estamos legando para nossas crianças?
A idolatria do brinquedo junto ao chocolate derrubou a compaixão. A embalagem subjugou o interior dos hábitos. Sobrou apenas a casca de um feriado, sem nenhuma profundidade metafísica.
Jogamos fora o movimento lúdico do faz de conta, as brincadeiras coletivas, o pacto com os antepassados, os rituais de geração a geração, as ideias criativas, a caça ao tesouro, o uso da imaginação.
O açúcar, antes, funcionava como um pretexto para entender e praticar outras doçuras.