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Se um homem pretende despertar o interesse de todos ao seu redor, dou o truque, a fórmula de sucesso: coloque um bigode.
Mas não o ascendente, estilo Salvador Dalí, aquele pincel debaixo do nariz, que só vai insinuar loucura.
Nem o clássico lápis que eternizou o Rhett Butler de Clark Gable em E o Vento Levou, que marcou atores em Hollywood nos anos 40.
E ainda não o bigode Chevron, cristalizado na figura do ator Tom Selleck, em formato de divisas das Forças Armadas, cobrindo inteiramente o lábio superior.
Tampouco o bigode faroeste — meio Chevron, meio ferradura —, que se estende pelas laterais da boca.
Muito menos o bigode de Chaplin, em que as arestas são verticais, à semelhança das cerdas de uma escova de dentes presa aos lábios. Até porque esse bigode da candura foi roubado e corrompido pela carranca do líder nazista Adolf Hitler. Ao pensar nele, ninguém mais se lembra do Chaplin, apenas de Hitler.
Tem que ser o bigode reto. Nem magro demais, nem gordo demais.
Ele é uma experiência transcendente da masculinidade, desde sua adoção pelos romanos, que começaram a podar as barbas para que os inimigos não pudessem imobilizá-los nas batalhas.
Ocorre uma transformação abrupta de temperamento. Você, de repente, é visto e tratado de modo diferente, mesmo que não tenha mudado em nada na sua essência.
É um efeito marcante e imediato de feedback, como pintar os cabelos, como raspar a cabeça. Não existe maneira de passar batido.
Quase como uma cirurgia plástica natural, sem cirurgia. Troca-se a moldura da janela da alma.
Durante suas férias em janeiro, o governador Eduardo Leite experimentou o bigode, e não resistiu perante o alvoroço da sua audiência. Depois de postar foto nas redes sociais com o novo visual, chamou tanto a atenção que voltou para a sua tradicional barba. Por pouco, não prestava uma homenagem involuntária ao seus antecessores bigodudos no cargo: Olívio Dutra, Tarso Genro, José Ivo Sartori, Pedro Simon e Leonel Brizola.
Bigode é um escândalo. A pessoa fica ou mais malandra, ou mais rabugenta, ou mais séria. E mais alguma coisa indecifrável, enigmática.
Basta recordar as celebridades dos filmes de ação dos anos 70: Chuck Norris e
Charles Bronson. Não eram personagens de muitos amigos.
Com o bigode, você envelhece. Parece que assume um segundo passaporte, uma identidade de agente secreto.
Trata-se de uma escolha rara, corajosa e ousada hoje em dia, por isso divide as opiniões. Tanto que é mais fácil localizar uma galocha na rua do que um bigode.
Mas, se o governador quiser realmente subir de fase no game da aparência, atrair os holofotes para si, monopolizar a curiosidade, recomendo adotar a suíça.
Você não envelhece, você se torna pré-histórico.
Vira o marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil, após liderar o movimento que resultou na Proclamação da República em 15 de novembro de 1889.
Você se converte instantaneamente na efígie de uma nota de 500 cruzeiros de 1981. Ou, indo mais fundo no tempo, de uma cédula de vinte mil réis de 1924.