Não consigo parar de pensar na dona Zeli. Ela virou, sem querer, uma personagem do Rio Grande do Sul, pelas razões mais trágicas e que mais parecem uma série ficcional. Imagino, ou tento imaginar, pelo que ela está passando. Por um lado, sobreviveu a dois envenenamentos. Por outro, perdeu marido, irmãs e sobrinha nas duas ocorrências. Penso também no menino, filho da Tatiana, que perdeu mãe e avó após comerem o fatídico bolo com arsênio na antevéspera de Natal, em Torres.
Internada, Zeli teve a vida virada de cabeça para baixo. Ela, afinal de contas, fez o bolo. A dúvida inicial é se queria matar as pessoas, se sabia que havia algo errado, se os ingredientes tinham problemas. Com o rápido trabalho de investigação, a Polícia Civil logo elucidou que se tratava de envenenamento. Os exames analisados pelo Instituto-Geral de Perícias, também com muita agilidade, indicavam a presença da substância. A possível autoria saía da Zeli e pairava na nora, Deise.
Todos ficaram acompanhando o novo capítulo querendo entender se Diego, o filho único da Zeli e do Paulo, era vítima ou cúmplice da esposa. Com o passar dos dias soubemos que passou mal após beber um suco feito por Deise. Ele e o filho tinham, também, veneno no corpo, revelou o exame de urina. O pai dele teve o corpo exumado. Era para ter sido cremado, mas por uma burocracia, foi enterrado, o que permitiu o exame póstumo. A Deise, segundo o depoimento do Diego, ainda tentou direto com o cemitério mudança de sepultamento para cremação.
A Zeli, fico imaginando, vai confiar em quem agora? Em 18 dias, do bolo até a alta hospitalar, tinha perdido pessoas muito próximas. Como comer sem pensar que pode ter veneno ou que será vítima de um novo atentado? Como restabelecer a confiança nas pessoas?
No depoimento que prestou essa semana, a matriarca contou que chegou a fazer um teste de Instagram sobre psicopatia, pensando na nora. Eram oito perguntas e todas se encaixavam no perfil. Enquanto o filho segue se negando a acreditar na participação de Deise e não tira a aliança do dedo, Zeli conta que sabia da inveja e via as manipulações da nora. Daí para pensar que ela poderia envenenar a família são outros quinhentos. Coloco-me no lugar dela de novo. Quem imaginaria um roteiro digno de livros da Agatha Christie acontecendo na sua família?
A ciência pode explicar o que se passa na cabeça da Deise. O que a Zeli pensa também deve ter explicação científica, mas me causa uma tristeza enorme pensar no sofrimento de uma pessoa querida por todas as testemunhas. Ainda que não fosse, nada justificaria matar alguém dessa forma.
O tema do bolo é de grande atenção do público e da imprensa. Em um mundo de redes sociais e memetização de tudo, até esse episódio vira brincadeira e piada. Faz parte, mas preciso lembrar aqui que, por mais que pareça série, estamos falando da vida real de uma família que parecia normal e que sofre um duro golpe.