Em meio à onda de calor e à falta de chuva que persiste, as perdas se alastram na produção agrícola e já se colocam irreversíveis no Rio Grande do Sul. A preocupação é de que a estiagem possa comprometer mais de 50% da produção de soja, principal cultivo da estação, conforme alerta da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do RS (Fetag-RS).
— Vamos ter perdas, e perdas elevadíssimas — antecipou o presidente da entidade, Carlos Joel da Silva, em coletiva da entidade sobre o tema nesta quinta-feira (6), em Porto Alegre.
São pelo menos 16 regiões produtoras já afetadas pela escassez hídrica. Até a tarde desta quinta, 62 municípios já haviam decretado situação de emergência, de acordo com a Defesa Civil do Estado.
— É um levantamento muito difícil de se fazer. Temos uma grande parte que plantou em outubro que já tem perda de 100%. Outros ainda dependem do desenvolvimento. Se confirmarmos o que os especialistas vêm dizendo sobre um mês de fevereiro com pouca chuva e até o meio de março, vamos passar de 50% a 60% de perdas com todos os casos — avalia Joel.
A coletiva desta quinta tratou ainda de preocupações relacionadas ao endividamento dos produtores e às mudanças no Proagro (seguro rural).
A característica desparelha das chuvas foi mencionada pelo presidente como um dos pontos críticos desta safra. Preocupa a irregularidade das precipitações, que atinge as regiões produtoras de forma muito distinta no Estado. O resultado são verdadeiros “bolsões” onde a chuva não chega de forma homogênea desde meados de dezembro, prejudicando o desenvolvimento das plantas.
Segundo a Emater, as regiões localizadas na porção oeste do Estado são as mais afetadas, com problemas acentuados no Centro, nas Missões e na Fronteira Oeste. Em alguns pontos, as perdas já estão consolidadas e são consideradas irreversíveis.
A Defesa Civil do Estado não contabiliza quantos municípios já apresentam dificuldade de água para consumo humano. Cidades como Santiago e Santa Maria, na Região Central, e Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, já recorreram a abastecimento suplementar por caminhões-pipa em algumas localidades.
Questão financeira
Enquanto enfrenta novo ciclo de dificuldades pelo clima, o agricultor gaúcho também lida com problemas financeiros. Conforme dados apresentados pela Fetag-RS, o endividamento rural no Rio Grande do Sul soma R$ 28,4 bilhões, muito pela sequência de duas secas e uma enchente na produção.
— Estamos com a safra muito comprometida financeiramente — resumiu Kaliton Prestes, secretário executivo da Fetag-RS.
As resoluções que diminuem a cobertura do Proagro preocupam. Entre as mudanças apresentadas pelo governo federal, a reforma altera alíquotas de operação, limita o número de acionamentos e reduz o valor de enquadramentos para R$ 270 mil.
— É um problema que só aumenta, e a questão do endividamento só vai piorar — reforçou Prestes sobre a alteração na política pública de financiamento.
Entre uma série de reivindicações, a Fetag pede prorrogação automática de 120 dias para os financiamentos dos principais programas de crédito voltados à produção agrícola, a revogação das resoluções que limitam ou reduzem o Proagro e a implementação do Desenrola Rural para operações de crédito vencidas ou por vencer vinculadas ao Pronaf e ao Pronamp com previsão de rebate e prorrogação.
A Fetag-RS também cobra a efetivação de um fundo de catástrofes com recursos dos governos federal e estadual para amparo aos agricultores frente aos eventos extremos climáticos.