
As semelhanças entre o caso ocorrido na semana passada em Tramandaí, no Litoral Norte, no qual uma menina de nove anos foi raptada enquanto brincava numa pracinha e da morte de outra criança, ainda sem solução, em Porto Alegre, levaram os investigadores a cogitar estar diante do mesmo autor. Essa possibilidade, no entanto, foi descartada por meio de comparativo genético, segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré.
Em 21 de outubro de 2018, Eduarda Herrera de Mello, a Duda, também de nove anos, brincava de patins perto de casa, no bairro Rubem Berta, na zona norte da Capital, quando desapareceu. Antes dela sumir, um homem teria se aproximado num carro vermelho e convidado a garota e outras crianças para ir com ele comprar casaco. A menina nunca mais foi vista com vida. O corpo dela foi encontrado na manhã seguinte, dentro do Rio Gravataí.
Alguns pontos em comum intensificaram a suspeita: Duda também tinha nove anos, foi levada das proximidades de casa, enquanto brincava e abordada por um homem pouco antes de desaparecer. A menina foi achada morta por afogamento, no rio, às margens da RS-118. No caso do Litoral Norte, a criança estava trancada num alçapão com uma tampa de concreto, sem ventilação, sob caixas de cerveja.
A menina resgatada relatou ter sofrido abuso – no corpo de Duda foi encontrado material genético masculino. Em Tramandaí, o homem teria usado um picolé para atrair a vítima ao interior da loja de conveniência, na Rua São Marcos. Enquanto no caso de Porto Alegre havia o convite para a compra de roupas.
— Havia algumas indicações, modos operandis, como a gente diz, muito parecidas com esse outro caso. Nós achávamos que era possível que fosse a mesma pessoa. As meninas tinham a mesma idade, desapareceram na frente de casa, enfim uma série de detalhes que nos remetiam para a possibilidade de ser o mesmo autor. Mas isso, infelizmente, não foi confirmado — afirma Sodré.
No caso do Litoral Norte, após a descoberta do crime, o homem apontado como autor, Marco Antônio Bocker Jacob, 61 anos, foi morto durante linchamento pela população. A identificação do autor permitiu que a polícia mapeasse o histórico dele, o que não foi possível no caso da Capital.
Isso levou à descoberta, por exemplo, de que Jacob já tinha agido contra outra vítima, em Porto Alegre. Em maio de 2020, havia sido preso, após atacar uma adolescente de 17 anos. O homem foi flagrado e contido pelos moradores, enquanto levava a jovem num carrinho de mão, amarrada e escondida debaixo de um cobertor. O caso aconteceu no bairro Rubem Berta, o mesmo onde vivia Duda.
A Rua Inácio Kohler, onde a menina morava, ficava a cerca de quatro quilômetros de onde a adolescente foi atacada dois anos depois. O homem também teria familiares que residiam na Zona Norte. Outro ponto que foi analisado é que, após a morte de Duda, um retrato falado chegou a ser divulgado. Trata-se de um homem branco, de cabelos claros e usando óculos — descrição compatível com a de Jacob.
O DNA coletado em ambos casos possibilitou que fosse realizado o confronto genético pela perícia.
— Nós pegamos o DNA coletado do suspeito e comparamos com o DNA que existia referente ao caso da menina Eduarda, que ficou junto ao Instituto-Geral de Perícias (IGP). Infelizmente, deu negativo, ou seja, continuamos ainda na busca do autor do caso da Eduarda. O confronto foi feito imediatamente após a gente perceber que havia essa possibilidade — diz o delegado.
“O fato segue sob apuração”, diz delegado
A investigação sobre a morte de Eduarda foi remetida ao Judiciário em maio de 2022, sem indiciamento. Depois disso, o documento foi analisado pelo Ministério Público e pelo Judiciário. Em 14 de fevereiro de 2023, o inquérito foi arquivado na 2ª Vara do Júri de Porto Alegre. Segundo o chefe da Polícia Civil, ainda assim, o caso segue sob o olhar da polícia.
— O fato segue sob apuração. Toda vez que surgir um elemento que aponte uma suspeita, uma verossimilhança, ou algo que indique uma possibilidade de confirmação de autoria, isso será feito. Tanto que agora fizemos essa comparação para ver se realmente conseguiríamos chegar à autoria. O que foi feito agora será feito todas as vezes que surgir um elemento que aponte a possibilidade de descobrir e desvendar o crime — diz Sodré.
Apesar do tempo transcorrido, o delegado afirma que a Polícia Civil ainda tem expectativa de conseguir chegar ao autor da morte de Duda.
— Temos essa expectativa, em razão da prova técnica, da prova do exame de DNA. Então, se nós tivermos uma suspeita razoável de alguém que, possa ter sido o autor desse crime, nós vamos levar o DNA para confronto. Se o DNA é positivo, sim nós vamos ter certeza da autoria — afirma.