Uma fenda foi aberta no peito de amigos, familiares e ex-colegas de Paola Muller, 32 anos. Mãe de dois filhos, ela foi atacada a tiros quando chegava em casa após o expediente em uma rede de farmácias na última segunda-feira (27).
Segundo a polícia, o suspeito é Alan Rodrigues da Silva, 26. Ele também teria perseguido a mulher até um hospital e descarregado novamente tiros de uma arma de calibre 38 contra a vítima, que não sobreviveu ao novo ataque. O caso aconteceu em São Francisco de Assis, na fronteira oeste do Estado. A vítima tinha medida protetiva contra o ex.
— Era uma pessoa que alegrava a todos em sua volta. Foi uma mãe que sempre lutou para dar o melhor para os filhos dela. Ela foi tirada de nós e deixa um vazio imenso, uma dor inexplicável e uma saudade imensa — lamenta uma amiga, que preferiu não se identificar.
Natural de Rosário do Sul, Paola vivia em São Francisco de Assis. Nos últimos quatro anos, ela trabalhava como balconista em uma rede de farmácias. Colegas de trabalho relatam que a vítima costumava comentar sobre trabalhar mais para proporcionar "mais conforto, estudo e viagens" aos dois filhos — um deles, conforme fonte ouvida pela reportagem, fruto de outro relacionamento.
— Ela falava neles (nos filhos) todos os dias. Contava com alegria cada conquista deles. A cada saída dela da farmácia, ela tinha que levar um docinho para eles. Uma vez, ela contou toda feliz que um deles falou que amava ela até o céu — relembra uma das colegas, que optou por não revelar o nome.
As ex-colegas acrescentam ainda que Paola era uma pessoa "muito leal, comprometida e sincera", que costumava demonstrar alegria, apesar de eventuais dificuldades.
"Guerreira"
A amiga Keli Zimmermann, 33 anos, também ressaltou o carinho que Paola nutria pelos filhos. Amigas há pelo menos três anos, elas se aproximaram em razão da maternidade. O assunto era comum às duas, que compartilhavam conselhos e casos do cotidiano.
— Era mulher guerreira, que trabalhava em dois três empregos para dar conforto para a família, sempre falando dos filhos com orgulho. Passei um período desempregada, e ela sempre me mandava mensagens no WhatsApp com as oportunidades que tinham na cidade. Ela se preocupava, porque sabia que tenho filhas para criar — assinala a amiga.
Keli relembra que além de uma mãe carinhosa, a vítima era uma cozinheira de mão cheia. Além disso, Paola gostava de dançar, tomar chimarrão e sair para conversar. Apesar de gremista, ela não expressava muita paixão pelo futebol.
Homenagem
Além de conversar com a reportagem de Zero Hora, a farmácia em que Paola trabalhava publicou uma homenagem no Facebook. A publicação presta condolências aos familiares e amigos da funcionária e deseja que "a memória e as boas lembranças permaneçam para sempre entre nós".
O crime
Segundo a polícia, no fim da manhã de segunda-feira (27), Alan Rodrigues da Silva, 26 anos, foi de moto até a casa da ex-companheira. Ela estava de carona no carro de um amigo que vinha conduzindo ela nos últimos dias por medida de segurança. Conforme a investigação, Silva desceu da moto, deu um abraço no filho, de seis anos, e desferiu seis tiros contra Paola, descarregando o tambor de um revólver calibre 38.
A mulher foi socorrida por vizinhos e levada para uma emergência hospitalar. Conforme a polícia, enquanto isso, Silva foi até outra rua, recarregou a arma e seguiu o carro que levava a ex-companheira para o hospital. Ao chegar na porta da instituição de saúde, ele efetuou mais seis disparos contra a mulher.
Pelo menos cinco tiros atingiram Paola na região do tórax e outros nos membros superiores. O homem fugiu. Uma câmera de monitoramento registrou o ataque.
O suspeito foi preso em flagrante ainda na segunda após buscas realizadas em parceria da Brigada Militar com a Polícia Civil. Em depoimento, Silva disse que se escondeu em um matagal, onde se desfez da arma e do celular. A arma não foi localizada. Segundo o delegado Marcelo Batista, não há registro de arma no nome do preso.
Nas redes sociais, Silva publicou um texto admitindo o assassinato, alegando desespero pela perda da guarda do filho: "Eu tentei da melhor forma, avisei, pedi, pedi e pedi mil vezes: por favor, não tirem meu filho de mim, ele é tudo que eu tenho, mas não adiantou. Foram lá e fizeram de tudo que é mentira pra me tirar ele", escreveu.
Conforme o delegado, o inquérito deve ser encerrado em até 10 dias. Além do feminicídio, a polícia também apura se houve tentativa de homicídio contra as outras pessoas que estavam próximas ao local onde foram efetuados os disparos.