A Polícia Civil ouvirá novamente a sogra e o marido de Deise Moura dos Anjos, 42 anos, suspeita de envenenar um bolo que matou três pessoas da família em Torres, no Litoral Norte, na antevéspera do Natal. Os depoimentos de Zeli Teresinha Silva dos Anjos e Diego Silva dos Anjos estão previstos para ocorrer nesta semana.
Zeli ficou 19 dias internada na UTI do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, após comer duas fatias do doce, que continha arsênio. Ela foi ouvida ainda no hospital, de onde teve alta em 10 de janeiro.
Segundo a Polícia Civil, o novo depoimento dela será fundamental para a investigação, pois ajudará a compreender a dinâmica dos fatos. Uma das dúvidas que ela pode ajudar a esclarecer, por exemplo, é a procedência da farinha, constatada em exame pericial como a fonte da contaminação pela substância letal.
Assim como a mãe, Diego também será ouvido na condição de testemunha. Em seu depoimento anterior, em 27 de dezembro, ele disse à polícia que a esposa tinha uma relação de altos e baixos com a sogra, como uma espécie de "eletrocardiograma". Contudo, ele negou que a esposa fosse capaz de envenenar familiares.
Deise é suspeita de ser a responsável pela morte de três familiares que comeram o bolo em 23 de dezembro. Ela também é investigada pela morte do sogro, Paulo Luiz dos Anjos, que morreu em setembro. Após a exumação do corpo, foi identificada quantidade letal de arsênio nos restos mortais.
Outro exame pericial também identificou resíduos de arsênio na urina do marido e do filho de Deise. A tentativa de envenenar o marido e o filho teria ocorrido antes do episódio do bolo. A informação foi divulgada pelo colunista Humberto Trezzi.
Análises pendentes
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) segue com as análises de alimentos levados por Deise para Zeli, quando ela ainda estava internada no hospital de Torres. São produtos que se somam a uma garrafa d'água, levada no mesmo dia, e que serão analisados para identificar se há a presença de substâncias que possam causar envenenamento.
A lista de itens sob análise inclui quatro bombons, um pastel, uma garrafa de suco, um canudo, um chiclete, um pacote de biscoito, quatro barras de cereal e um mandolate. Nenhum dos produtos foi consumido ou utilizado por Zeli. O IGP espera concluir as análises ainda nesta semana.
Entenda o caso
Em 23 de dezembro do ano passado, seis pessoas da mesma família precisaram de atendimento médico após comer fatias de um bolo de reis, doce tradicional das reuniões de fim de ano, em Torres, no Litoral Norte. Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47, filha de Neuza, morreram.
O bolo foi preparado por Zeli Teresinha Silva dos Anjos, 61. Após comer duas fatias, Zeli passou mal e foi internada na UTI do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, onde ficou 19 dias. Um menino de 10 anos, neto de Neuza e filho de Tatiana, também ficou hospitalizado, mas foi liberado após alguns dias.
Jefferson Luiz Moraes, 60 anos, marido de Maida, foi liberado após atendimento médico. O marido de Neuza também estava na confraternização, mas não comeu o bolo.
Após as suspeitas da polícia sobre Deise, a investigação pediu a exumação do corpo de Paulo Luiz dos Anjos, marido de Zeli, que morreu em setembro. À época, a causa da morte foi atestada como intoxicação alimentar, mas a exumação confirmou o arsênio como causa da morte de Paulo também.
Contraponto
A reportagem tentou novo contato com os representantes de Deise nesta segunda-feira (20), mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
Em nota divulgada em 10 de janeiro, a defesa da suspeita disse que as declarações divulgadas pela polícia em coletiva de imprensa "não foram judicializadas no procedimento sobre o caso, portanto "aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação".
Nota da defesa na íntegra
O escritório Cassyus Pontes Advocacia representa a defesa de Deise Moura dos Anjos no inquérito em andamento sobre o fato do Bolo, na Comarca de Torres, tendo sido decretada no domingo a prisão temporária da investigada.
Todavia, até o momento, mesmo com o pedido da Defesa deferido pelo judiciário, ainda não houve o acesso ao inquérito judicial.
A família, desde o início, colabora da investigação, inclusive o com depoimento de Deise em delegacia, anterior ao decreto prisional.
Cumpre salientar, que as prisões temporárias possuem caráter investigativo, de coleta de provas, logo ainda restam diversos questionamentos e respostas em aberto neste caso, os quais não foram definidos ou esclarecidos no inquérito.