A agressão cometida por um morador ao porteiro Rodinei Antônio Xavier, 53 anos, em um condomínio no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, é "imperdoável", nas palavras do síndico (que preferiu não se identificar), que presenciou o episódio na última quarta-feira (21). Ele pontua que o homem terá de "responder por seus atos" e que demais moradores do local "não compactuam" com a violência física sofrida pelo funcionário. Conforme relato da vítima, o agressor teria também proferido ofensas racistas. O caso é apurado como lesão corporal e injúria racial (dentro da lei de racismo), pela Polícia Civil. O nome do investigado não foi divulgado.
Naquela quarta, o tumulto teria começado em razão de um problema com uma telentrega. Irritado, o suspeito teria saído de seu apartamento, por volta das 22h, e ido até o imóvel do síndico, pedindo que o acompanhasse até a portaria. No local, o morador passou a xingar Xavier.
— Ele pediu que eu tomasse providências por causa dessa telentrega, que eu tinha de demitir o Rodinei, que não era a primeira vez (que tinha problemas com o funcionário). Eu pedi para que ele se acalmasse, para resolver outro dia, mas ele estava muito alterado, por isso desci com ele. Na portaria ele começou a ofender o Rodinei. Quando me dei conta, já estava dando socos no funcionário, foi quando puxei ele e um morador me ajudou a detê-lo — contou o síndico.
Conforme o síndico, uma notificação e multa – estipulada em 10% do valor do salário mínimo – foram emitidas ao morador responsável pela agressão. Nesta semana, moradores do condomínio farão uma reunião com advogados para avaliar como proceder sobre o caso.
— Nem eu nem ninguém do condomínio compactua com essa agressão. É uma coisa incabível, imperdoável, e ele terá de responder por seus atos. Sem punição não pode ficar, porque foi muito grave a atitude dele.
Depois das agressões, a Brigada Militar foi acionada para registro de ocorrência. O Samu também foi ao condomínio e atendeu o funcionário, que depois foi levado ao Hospital de Pronto Socorro (HPS).
Xavier está afastado do trabalho por licença médica, para se recuperar das lesões, que o feriram principalmente no rosto. O porteiro está emocionalmente abalado e com receio de retornar ao trabalho e sofrer retaliações por parte do agressor. Ele trabalha no local há cerca de três anos.
O caso é investigado como lesão corporal e injúria racial (dentro da lei de racismo), pela delegada Tatiana Bastos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI) da Capital. No procedimento aberto nesta segunda-feira (26), serão ouvidos nos próximos dias testemunhas, vítima e agressor.
Ofensas racistas teriam ocorrido por interfone
O síndico e o outro morador que ajudou a cessar as agressões, Artur Bernardo Koefender, 38 anos, afirmam que não ouviram ofensas racistas durante o tumulto. No relato do porteiro, os ataques teriam ocorrido antes, por interfone.
— Ele disse "negro macaco, negro de merda, vou descer aí agora e já falo contigo". Então, ele desceu e ficou lá até que aconteceram as agressões — afirmou Xavier a GZH no fim de semana.
Segundo Koefender, que mora no condomínio há cerca de cinco anos, o agressor estaria "transtornado" e era difícil entender o que dizia durante a briga:
— Ele estava alterado, muito transtornado, algo fora do comum. Não dava para entender o que ele estava falando. Ele reclamava muito, disse que o porteiro tinha dispensado o motoboy (que foi ao local fazer a entrega) para prejudicar ele, coisas que não pareciam fazer sentido nenhum. Exigia a demissão do porteiro e o sindico falou que isso não ia acontecer. Aí disse que então ia fazer da vida do funcionário um inferno.
Koefender relata que mora em frente ao apartamento do síndico do condomínio, e que recém havia chegado em casa quando percebeu uma gritaria no corredor. Ele diz que trocou de roupa e decidiu descer para ajudar, ao ver que o outro morador estaria alterado.
Em razão do episódio, ele afirma que teria ficado com dores nas costelas e o síndico com um hematoma no punho. As lesões foram leves, no entanto. Koefender afirma que nunca havia presenciado episódios do tipo no condomínio.
— Os moradores estão do lado do porteiro, acham a agressão absurda e buscam a melhor forma de solucionar o problema e ajudar o funcionário. Alguns moradores estão fazendo doações financeiras a ele, para ajudar neste momento. Ele sempre foi uma pessoa muito decente, muito certa, sempre me dei bem com ele. A gente espera que a justiça seja feita — diz o vizinho.