A Polícia Civil indiciou por sete crimes, na terça-feira (14), os donos de casa geriátrica clandestina descoberta em Taquara, no Vale do Paranhana. Dez idosos foram resgatados no local, que foi interditado, em 2 de outubro.
De acordo com a Polícia Civil, eles estavam em más condições de higiene, desnutridos, desidratados, sem acesso aos próprios cartões bancários para recebimento de benefícios e dormiam em meio a porcos e galinhas.
Conforme o delegado Valeriano Garcia Neto, responsável pela investigação, Jefferson Almeida de Almeida, Thalles Maciel Telles e Eliane Maciel da Silva devem responder por tortura qualificada, cárcere privado, retenção de documentos, furto qualificado, maus-tratos contra animais, associação criminosa e redução à condição análoga à escravidão.
O advogado Anderson Borba da Silva, que representa os donos da casa geriátrica, nega que seus clientes tenham cometido os crimes.
— A denúncia é uma invencionice feita por uma pessoa que sofre com sérios problemas psicológicos e que se aproveitou de um momento de improviso por conta das enxurradas que atingiu o local. Quanto à suposta remoção de corpos, é mais um absurdo, fruto da criatividade da mente doentia. Os proprietários já se apresentaram e estão à disposição da Justiça, no momento oportuno, tudo será esclarecido — diz o advogado, ainda citando escavações que foram feitas no pátio em busca de supostos corpos que teriam sido enterrados ali.
Na segunda-feira (13), os três indiciados foram até a delegacia de polícia de Taquara para prestar depoimento após serem intimados, mas todos permaneceram em silêncio, segundo o delegado.
— É um deboche, um descaso com a polícia, com o Ministério Público, com o Judiciário e com toda a sociedade. Estamos convictos da necessidade da prisão dos investigados, por isso, reiteramos pela terceira vez o pedido de prisão preventiva. Fica claro que os investigados têm essa modalidade criminosa como meio de vida, basta olhar sua lista de ocorrências policiais, que ostenta, inclusive, o crime de tráfico de pessoas — pontua o delegado.
Das outras duas vezes que a polícia pediu à Justiça a prisão dos três, os pedidos foram negados. O Judiciário entendeu que não estavam presentes todos os requisitos legais para a decretação da prisão e que a interdição do local "garante a integridade social buscada". Com isso, eles respondem pelos crimes em liberdade.
Conforme a Polícia Civil, novas provas foram acrescentadas na fase final do inquérito, entre elas, um documento de movimentação financeira no valor de R$ 6,23 mil da conta de um dos idosos que estava na clínica em favor de um dos proprietários.
Denúncia levou ao resgate dos idosos
A operação de resgate dos idosos foi realizada pela Vigilância Sanitária e pela Secretaria de Assistência Social do município a partir de uma denúncia. De acordo com uma mulher, que se apresentou como funcionária da clínica, os internos dividiam os dormitórios com porcos e galinhas. O local fica na área rural de Santa Cruz da Concórdia.
Segundo o relato, havia esterco espalhado pelo chão, os moradores não usavam fraldas e ficavam sujos. Alimentos e medicação também eram escassos, afirmou a funcionária do local.
Os idosos foram retirados do local de ambulância e passaram por avaliação médica. Segundo a Secretaria de Assistência Social de Taquara, dos 10 idosos resgatados, quatro foram encaminhados às famílias. Outros seis seguem em uma clínica geriátrica particular na mesma cidade, onde recebem cuidados. Esses são naturais de Porto Alegre mas, até o momento, nenhum familiar foi encontrado.
A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) de Porto Alegre informou à reportagem que colabora com o Ministério Público no processo de busca por familiares.