
A segunda-feira (7) começou com pânico nas bolsas ao redor do mundo ainda sob efeito do tarifaço do governo de Donald Trump, retaliação da China e incertezas sobre os efeitos da guerra comercial.
Bolsas de valores da Ásia e da Europa desabaram e o Ibovespa, principal indicador de desempenho do mercado de ações do país, a B3, opera de forma volátil e instável nas primeiras horas do dia.
Mas por que esse derretimento intensificou nesta segunda-feira? A reportagem de Zero Hora ouviu especialistas para resumir os principais fatores que explicam a queda e o temor por uma recessão econômica mundial.
Por que as bolsas estão caindo
Em resumo, as bolsas de valores são os ambientes onde ocorrem a negociação de diversos ativos financeiros. Em cenários com decisões políticas ou econômicas mal-recebidas pelo mercado, investidores ficam mais pessimistas diante da incerteza sobre o tamanho da desvalorização dos ativos.
No caso específico do tarifaço de Trump, os mercados ainda não têm clareza como será a guerra comercial e os efeitos nas relações entre os países. Com isso, mais gente passa a vender ativos ao mesmo tempo, aumentando a desvalorização.
O professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS Pedro Dutra Fonseca destaca como essa incerteza reflete no derretimento das bolsas:
— Quando a bolsa sabe as consequências, ela mede o risco. Quando ela não sabe, tende a ser muito maior a desvalorização. Então, o que está acontecendo, no caso, é a incapacidade de medir, vamos dizer assim, a incerteza.

E como esse cenário reflete no risco de recessão
Diante da grande possibilidade de mudança na ordem das negociações comerciais ao redor do mundo, cresce o risco de queda nos investimentos, na produção e no consumo. Isso aumenta o risco de recessão internacional. O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, afirma que o tarifaço eleva as chances de aumento de inflação e mudança na dinâmica econômica, abrindo espaço para recessão:
— Essa dinâmica rápida e curta, tem esse efeito do risco de recessão global. Por que global? Porque, primeiro, os Estados Unidos representam praticamente um quarto, quase, da economia global. Tem a China também, que é bem expressiva. Então, a gente está falando ali em torno de um pouco mais de um terço da economia global nesses dois países. Isso vai acabar afetando a questão de preços.
O professor Pedro Dutra Fonseca volta a destacar o papel da incerteza também no campo da economia real e como isso afeta as decisões dos parceiros comerciais. Como a regra do jogo mudou, fica mais difícil ter otimismo nos investimentos e no consumo, segundo o docente:
— Aumenta a recessão, porque bagunça todos os mercados. Tu não sabe mais quem é que vai ser seu fornecedor, qual o preço que esse fornecedor vai te cobrar.Porque junto com essas tarifas também vêm vedações. Vai se refletir em mudanças de parcerias internacionais.
Quem é que vai me fornecer agora? A que preço? A que taxa?
PEDRO DUTRA FONSECA
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Com mais incerteza e pouco estímulo à produção, empresas tendem a segurar investimentos, criando menos espaço para avanço da atividade econômica e do emprego, por exemplo.
Como esse ambiente afeta as empresas e o consumidor final
Essa questão é mais complexa e depende de como as economias vão se comportar na prática após a vigência do tarifaço, segundo especialistas. No entanto, existe uma espécie de consenso na linha de que vai provocar recessão e inflação, encarecendo alguns itens para o consumidor em um primeiro momento. Por outro lado, alguns setores, como o agronegócio, podem surfar diante de novas oportunidades de parceiros comerciais, atingindo locais que não frequentavam com tanta frequência.
— O mercado recessivo, a curto prazo, na economia mundial, afeta o Brasil. E isso reflete nos preços. Agora, em alguns setores específicos, pode gerar novas oportunidades. Aí tem que se ver caso a caso, não tem uma regra geral — pontua o professor da UFRGS.
O economista-chefe da Austin afirma que é difícil de determinar um prazo, por que os efeitos dependem de alguns fatores, como nível de estoques, relação entre países para compensação da alta das tarifas.
— De imediato, vemos o impacto na desvalorização da moeda, que também pressiona a inflação por meio dos produtos comercializados internacionalmente e a queda dos preços das ações na bolsa.