As facções que foram alvo da Operação Senhores do Altomonte, deflagrada nesta quinta-feira (30), pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), eram as maiores fornecedoras de armas ilegais para o cometimento de crimes na Capital e na Região Metropolitana. Investigados há mais de um ano e meio, em trabalho coordenado entre a 1ª e a 3ª Delegacias de Investigação do Narcotráfico (DIN) do Denarc, os grupos mantinham esquema de aquisição no Exterior, venda e até aluguel de armas no Estado, sendo responsáveis por grande parte das mais de 400 peças de material bélico apreendidas em 2023 nas ações do departamento.
— Nesta manhã (quinta-feira), aplicamos um duro golpe na criminalidade em uma resposta firme do Estado contra organizações criminosas que atuavam no tráfico de drogas e armas em território gaúcho. Trata-se de um trabalho brilhante dos delegados e agentes da nossa Polícia Civil, que traz como um de seus resultados a melhora na segurança pública e terá reflexos na redução de indicadores de criminalidade — analisou o chefe de Polícia do Estado, delegado Fernando Sodré, durante a entrevista coletiva para apresentação dos resultados.
A ação teve início ainda na madrugada, com a concentração de mais de 700 policiais para a distribuição das missões. Eram 86 mandados de prisão preventiva e temporária, somados a 107 mandados de busca e apreensão, que deveriam atingir o conjunto hierárquico do dois grupos implicados nas investigações. A maioria das prisões ocorreu na Capital, tendo alvos prioritários nas vilas Jardim e Cruzeiro do Sul. Até o final da manhã, 61 pessoas haviam sido presas.
— Foi um trabalho extremamente exitoso. Sufocamos dois grupos criminosos, que pretendiam formar um consórcio para fortalecer sua atuação e dificultar a ação da polícia, modificando a estrutura que já vinha sendo mapeada e tentando desviar o foco das apurações — descreveu o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt, que registrou agradecimentos ao Ministério Público e ao Poder Judiciário pela "análise célere" das medidas cautelares solicitadas pelos investigadores.
Foram cerca de 500 medidas. Além das prisões e buscas para apreensão, ocorreram apreensões de veículos, sequestro de valores e bloqueio de bens, supostamente provenientes de capital auferido com a prática de crimes.
Rota das armas
Com as prisões e apreensões desta quinta-feira, a polícia espera avançar ainda mais no conhecimento das práticas e no reconhecimento das pessoas integradas às facções, sobretudo por meio da investigação sobre armazenamento de dados e históricos de comunicação entre elas. Foi desta forma, conforme os delegados coordenadores da operação, Gabriel Borges e Ana Flávia Leite, que as autoridades obtiveram parte das informações que deram origem à operação.
De acordo com as investigações, a maior parte das armas introduzidas no Rio Grande do Sul provêm dos países vizinhos.
— São duas as principais rotas apuradas. Pistolas entram no Estado pelas fronteiras com Argentina e Uruguai. Já o armamento pesado, como fuzis, submetralhadoras e metralhadoras, entram geralmente por Estados vizinhos, vindas do Paraguai — apontou a delegada Ana Flávia Leite.
Para o delegado Gabriel Borges, o ingresso de armas ampliava significativamente a capacidade de empregar extrema violência na disputa por territórios e fomentou ataques e homicídios em conflitos entre as facções.
— Entre este arsenal, há armamento de combate militar, como fuzis, granadas e até uma metralhadora de defesa antiaérea, de calibre 30 milímetros. Estes grupos abasteciam suas células para a prática de crimes patrimoniais e enfrentamentos extremamente violentos em disputas territoriais — explicou Borges.
Na avaliação do diretor de Investigações do Narcotráfico do Denarc, delegado Alencar Carraro, a estrutura dos grupos que ostentavam "dominar" o território da Grande Porto Alegre foi severamente atingida pela ação do departamento.
— A Polícia Civil está atenta e não vai permitir que facções imponham suas regras sobre nossa comunidade. A resposta será forte, à altura da expectativa da sociedade gaúcha — assegurou Carraro.
Lavagem de dinheiro
As apurações, segundo os delegados, prosseguirá no sentido de verificar e reaver bens, valores e patrimônio obtido com crimes. Entre as linhas averiguadas até o momento atual das investigações está a de que, além de empregar recursos em comércios e empresas utilizadas para "limpar" o dinheiro de drogas e armas, as facções estariam remetendo valores a, ao menos, um doleiro, o qual é investigado por supostamente converter moeda brasileira em dólares norte-americanos.
— Eles utilizam diversas formas para tentar lavar o dinheiro sujo. Cruzam depósitos por meio de contas bancárias de laranjas, compram imóveis e automóveis, investem em propriedades rurais, mercados, padarias, restaurantes, postos de combustíveis e lojas de todo o tipo de produto. Porém, a polícia está atenta a estes movimentos e atuará para desestruturar o capital do crime — finalizou o delegado Carlos Wendt.
Entre as formas de ampliar a lucratividade, conforme o Denarc, os líderes das quadrilhas estimulavam a divulgação de suas mercadorias por vídeos compartilhados nas redes sociais, como mostram peças visuais obtidas em meio às apurações.