A Polícia Civil deverá solicitar à Justiça a prorrogação da prisão temporária de Emerson da Silveira Leonardi, 30 anos, principal suspeito de envolvimento no crime que resultou no homicídio e na ocultação de cadáver da sua prima, a enfermeira Priscila Ferreira Leonardi, 40. Emerson está detido temporariamente desde 13 de julho em Alegrete, na Fronteira Oeste, pelo prazo de 30 dias, previsto para os crimes hediondos. Daqui a alguns dias, o suspeito entrará na quarta semana de cárcere e, por isso, a Polícia Civil está inclinada a requerer a extensão.
— A nossa ideia, já que temos mais coisas a fazer na investigação, é pedir a prorrogação da prisão por 30 dias. Sempre tentamos trabalhar com o máximo de prazo possível se temos mais diligências a cumprir — afirma a delegada Fernanda Graebin Mendonça, da 1ª Delegacia de Polícia de Alegrete.
O principal desafio envolve a identificação dos executores do crime, que teriam atuado a mando do primo. Uma das linhas de investigação considera a hipótese de eles serem integrantes de facção criminosa. Outro flanco busca esclarecer o plano original dos algozes de Priscila. Os indicativos são de que o intento criminoso foi motivado por interesses patrimoniais e disputas familiares, mas resta dúvida se a intenção inicial era matar ou promover um sequestro seguido de extorsão que, por algum percalço no caminho, acabou se convertendo no violento assassinato.
— Não conseguimos dizer com certeza hoje. Ainda investigamos se a morte era planejada desde o início ou não. Estamos evoluindo na questão dos executores, mas tudo sob sigilo. Devagar estamos conseguindo. Continuamos com alguns nomes — diz a delegada.
A Polícia Civil constatou que a vítima estava usando uma linha telefônica de procedência nacional. Foram requeridas informações para a operadora, ainda pendentes, com o objetivo de identificar localizações e interrupção de funcionamento. O notebook da enfermeira, recolhido na casa de uma prima em que ela estava hospedada, foi analisado, mas não agregou informações relevantes até o momento. Já o telefone celular de Emerson, apreendido no dia da prisão, foi encaminhado para perícia e extração de dados.
A delegada afirma que não foi verificada, até o momento, a participação de outros familiares de Priscila no crime.
— A princípio, o suspeito é o Emerson. A gente entende ele como mandante, mas continuamos investigando — afirma Fernanda.
O pai de santo acusado por Emerson de supostamente ter feito ameaças à enfermeira, o que teria sido motivado por dívidas, permanece sob investigação e já prestou depoimento. O religioso conhecia tanto o primo preso quanto a vítima do homicídio.
Homicídio
O assassinato de Priscila, que morava desde 2019 em Dublin, na Irlanda, causou comoção. Ela estava de férias do trabalho no país europeu, onde atuava em um lar de idosos, e viajou até Alegrete para resolver pendências do inventário do seu pai, Ildo Leonardi, falecido em maio de 2020, aos 74 anos.
Ela foi vista com vida pela última vez em 19 de junho, à noite, quando saiu da casa em que Emerson morava com a família. A residência era propriedade de Priscila e do espólio do seu pai, mas era habitada pelo primo há anos. Ela tinha ido ao imóvel buscar pertences de valor sentimental.
No boletim de ocorrência e em entrevista posterior à GZH concedida por sua defesa, Emerson relatou ter chamado por telefone, via WhatsApp, um motorista para levar Priscila até a casa de uma outra prima, onde estava hospedada. O número do condutor teria sido fornecido pela enfermeira. Uma Duster preta teria estacionado em frente à moradia, no bairro Vila Nova, em Alegrete. Priscila embarcou, mas nunca chegou ao destino. Na manhã seguinte, narrou Emerson, a Duster preta teria voltado ao local com quatro ocupantes que teriam feito ameaças a respeito da quitação de uma suposta dívida de Priscila com o pai de santo.
O corpo da enfermeira foi encontrado somente em 6 de julho, em estado avançado de decomposição, preso a galhos próximo da margem do Rio Ibirapuitã. Havia sinais de espancamento e uma fita branca grossa, semelhante a um esparadrapo, enrolada no pescoço, em diversas voltas. A necropsia identificou traumatismo encefálico e a causa da morte foi estrangulamento.
Disputas patrimoniais
Priscila morava em Dublin desde 2019 e, em Alegrete, permaneceu residindo o seu pai, Ildo. Já idoso, ele teve o pai de santo como cuidador por um período. Depois, o religioso foi afastado da atividade, que era remunerada, e os cuidados ficaram a cargo de Emerson. Ildo faleceu em 4 de maio de 2020.
No último mês antes da sua morte, foram sacados R$ 167,7 mil em cheques da conta de Ildo, o que teria ocorrido a título de doação. Do montante, R$ 95,7 mil foram em benefício da esposa de Emerson. Os outros R$ 72 mil tiveram a prima, com a qual Priscila estava hospedada, como destinatária. A enfermeira teria tomado conhecimento das operações dias antes do seu desaparecimento na Fronteira Oeste.
Após a morte de Ildo, Emerson ficou morando na casa que era herança de Priscila. Eles fizeram um acordo para que o suspeito comprasse a residência em agosto de 2020. Foi assinado um contrato de promessa de permuta entre ambos. A vítima ficaria com cerca de 15 hectares de terra em Alegrete e o primo, em troca, teria a propriedade da casa. O campo que Emerson usaria no negócio era, originalmente, de Ildo, que teria feito doação para ele antes de morrer. O fato é que, em vez de passar as áreas para o nome de Priscila, Emerson as vendeu para um terceiro, com registro de escritura pública em cartório.
Frustrado o acordo anterior, Emerson assinou uma confissão de dívida em janeiro de 2022. Ele pagou uma entrada de R$ 30 mil e recebeu prazo até dezembro de 2022 para quitar o saldo de R$ 209,6 mil. Como o compromisso foi desonrado, a enfermeira ingressou, em janeiro de 2023, com ação judicial de cobrança contra Emerson na 2ª Vara Cível da Comarca de Alegrete. A dívida atualizada requerida era de R$ 212,4 mil.
Contraponto
A advogada Jo Ellen Silva da Luz, responsável pela defesa de Emerson, se manifestou em nota. Ela disse estar ciente da possibilidade de prorrogação da prisão temporária.
"Quanto a pedido de liberdade, impetração de habeas corpus, nenhuma dessas informações tenho a autorização para divulgar. Não acho necessário repassar teses defensivas quando nem mesmo se tem processo criminal judicial instaurado", registrou a advogada.
Ela mencionou que "há novas pessoas a serem investigadas" por terem demonstrado comportamento estranho após o homicídio de Priscila e "faltado com a verdade perante a autoridade policial."
"A defesa sabe que ainda não se esclareceram várias arestas sobre os fatos. Há inúmeras diligencias para serem cumpridas e investigadas", registrou a defensora.