Em última fase de debates no julgamento em Planalto, no norte do RS, o Ministério Público buscou reforçar que Alexandra Salete Dougokenski, 35 anos, apresentou diferentes versões para o assassinato do filho Rafael Mateus Winques, 11 anos, que foram adaptadas ao longo do caso. De outro lado, a defesa voltou a atacar o pai do menino, Rodrigo Winques, apontado pela ré como autor do crime em sua última versão. Os argumentos finais da acusação e defesa foram apresentados na réplica e tréplica na noite desta quarta-feira (18).
Responsável por elaborar a denúncia do crime, a promotora Michele Dumke Kufner narrou que ingressou no caso no dia 15 de maio de 2020, data em que Alexandra comunicou o sumiço do filho. Ressaltou que o MP não tem necessidade de pedir a condenação a qualquer custo.
— Se tivéssemos alguma dúvida da responsabilidade da Alexandra, pela morte do filho dela, não viríamos aqui pedir a condenação — afirmou.
A promotora relatou que foi até a casa de Alexandra em 21 de maio daquele ano, para prestar solidariedade. Naquele mesmo dia, a mãe teria mandado mensagens para Rodrigo pedindo informações sobre o filho e também enviado mensagens ao então namorado, tentando imputar responsabilidade a um dos irmãos.
— Naquele mesmo dia, eu estive na casa dela. Eu passei pelo corredor onde ela arrastou o corpo do filho dela. Eu sentei no sofá e fiquei mais de uma hora conversando com ela. Naquele momento, ela era uma mãe procurando o filho. Eu queria ouvir dela, o que tinha acontecido, ela era uma mãe sem filho — disse.
A promotora relatou que Alexandra narrou detalhadamente como o filho foi morto:
— Neste exato momento, em que eu estava conversando com ela, o filho dela estava apodrecendo dentro da caixa. Eu posso dizer isso porque, quando o corpo foi encontrado, eu também estava aqui. (...) Naquele dia, ouvi os colegas do Rafael, ouvi professores. Eu senti o cheiro do Rafael podre, porque eu estava aqui, quando corpo foi encontrado.
A promotora lembrou que quatro dias antes da localização do corpo estava sentada dentro da casa de Alexandra.
— Nesse dia, sabe o que perguntei para ela? Se tinha alguma coisa acontecendo, alguma problema, e ela disse que não. Ela estava em total segurança. Se houvesse qualquer tipo de ameaça, ela teria me contado. E eu teria todos os meios para auxiliá-la e deixá-la em segurança — ressaltou, contestando a versão de Alexandra de que foi coagida pelo ex para não confessar que Rafael estava morto.
Michele descreveu que acompanhou as etapas seguintes, como a confissão de Alexandra, que alegou ter matado o filho sem intenção, ao ministrar medicação, e posteriormente outra versão, na qual ela alegou que asfixiou o filho sem querer, durante o transporte do corpo até a casa vizinha. A promotora afirmou que acompanhou ainda a reprodução simulada dos fatos, na qual Alexandra reconstituiu essa versão, que mudaria depois.
— Escutei ela chorando, por causa da bagunça na casa. Eu ouvi — disse.
Em determinado momento da réplica do MP, a promotora Michele disse que as versões apresentadas pelos familiares foi diferente no júri.
— As declarações que vocês ouviram ontem do Anderson (filho mais velho de Alexandra), da dona Isailde (mãe da ré) e do Alberto (irmão da acusada), na delegacia, na fase da investigação, que é justamente como o nome diz para investigar o crime, eram completamente outras. Eles sabem disso. E só não mostrei para vocês porque não quiseram responder as perguntas da acusação ontem — disse Michele.
A defesa de Alexandra interrompeu:
— Quero consignar em ata: acabou de anular o júri. Acabou de anular o júri — disse o advogado Jean Severo, alegando que a promotora teria ferido o silencio da ré, embora ela tenha citado somente os familiares nominalmente.
A juíza respondeu que a afirmação da promotora estava gravada, mas que consignaria a manifestação da defesa em ata.
— Não, não anulou o júri — respondeu a promotora, que seguiu. — Os senhores sabem exatamente o que estou falando. Vivi junto com todos os senhores o que aconteceu. Dentro da nossa investigação, existem provas que colocam o Rodrigo não aqui, mas lá, onde ele estava, em Bento Gonçalves. O que vimos foram tentativas desesperadas de livrar uma pessoa que é a única responsável pela morte do filho — complementou.
Por fim, a promotora pediu que os jurados condenem a ré. O MP busca que ela seja sentenciada à pena máxima.
— O que nós pedimos aqui não é a condenação a qualquer custo, de qualquer pessoa. Mas é a condenação de uma pessoa que é a responsável pela morte do filho. No momento que tinha inúmeras possibilidades nunca trouxe nenhum tipo de verdade para o processo. Sempre a verdade que é conveniente. Hoje ela veio aqui contar história porque é conveniente. Ela veio aqui para enganar os senhores, como ele enganou toda uma comunidade — afirmou Michele.
Defesa enfatiza que Alexandra era uma boa mãe
A primeira a falar pela defesa foi a advogada Mayara Juppa Camine, que buscou enfatizar o fato de que Alexandra era uma mãe que cuidava dos filhos, e que não tinha motivos para assassinar o filho. Durante todo o tempo, a mãe de Alexandra, Isailde Batista, o irmão, Alberto Cagol e o filho Anderson Dougokenski, acompanhavam a fala.
— Não vi nenhuma testemunha nesse plenário dizer que a Alexandra era uma má mãe. Uma mãe que se preocupava com a educação do filho. A carteira de vacina do Rafael está no processo. As vacinas em dia — disse.
A advogada questionou logo depois a relação de Rodrigo com o filho, apontado como distante e relapso com o garoto. Durante os depoimentos, ele foi questionado sobre a data de nascimento do menino e não soube informar.
— Mãe que é mãe não mata. Mãe ama. Mãe cuida, mãe zela. Não passa 11 anos sofrendo para criar o filho sozinha e chegar um dia e decidir acabar com tudo. O Rafael era um anjo, um menino de ouro, um menino educado, um menino inteligente. Não tem motivo algum. Isso ficou mais do que comprovado nesse processo — afirmou.
Mayara enfatizou também que os professores e servidores da escola onde Rafael estudava nunca perceberam nenhum ato de violência ou maus-tratos por parte de Alexandra.
— Alexandra sempre foi uma boa mãe. Sempre foi — sustentou.
Os crimes
Alexandra é acusada de homicídio qualificado (motivo torpe, motivo fútil, asfixia, dissimulação e recurso que dificultou a defesa), ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual. Os jurados serão os responsáveis por apontar se a ré é ou não culpada pelos crimes. Após a decisão dos jurados, é a juíza Marilene Campagna estabelecerá, em caso de condenação, o tempo de pena. É ela também quem lerá a sentença, independente se o resultado for a condenação ou absolvição da ré.