Preso em Santa Catarina no último domingo (20) pelo sequestro de uma menina de quatro anos em Palhoça, na Grande Florianópolis, um casal se aproximava de famílias com crianças oferecendo ajuda. Foi assim que eles fizeram contato com a mãe da garota sequestrada na noite de sexta-feira (18). A mulher de 44 anos foi espancada dentro de casa e teve a filha levada pelos criminosos. Cerca de 30 horas depois, o cativeiro foi descoberto e os dois foram presos em flagrante.
— Eles se apresentavam como pessoas que queriam ajudar. Outras pessoas que conheciam o casal e que também contaram que eles se aproximaram oferecendo ajuda financeira procuraram a polícia. Todas são mães com filhos, eles se aproximavam das crianças também — relata diretora de Polícia Civil da Grande Florianópolis, Eliane Chaves.
A mãe da menina sequestrada, segundo a delegada, em razão das dificuldades financeiras, também havia pedido ajuda por meio das redes sociais. Um dos contatos feitos pelo casal no mesmo dia do sequestro foi se oferecendo para levar uma cesta básica até a residência. No início da noite, eles foram até a casa em um veículo, espancaram a mãe da menina e sequestraram a criança. A mulher precisou ficar hospitalizada, em razão das pancadas na cabeça – teria sido usada uma barra de ferro e uma faca.
Sobre a investigação, a diretora diz que o prazo para conclusão do inquérito deverá ser estendido em razão da complexidade do caso. Inicialmente, o período era de 10 dias, em razão da prisão - a polícia deverá pedir a prorrogação. Sobre a motivação, afirma que os policias estão avançando, mas prefere não repassar detalhes no momento.
— Ontem os policiais estiveram na casa novamente, recolhendo materiais. Ainda vão trabalhar bastante em cima do caso, ouvindo pessoas que estão se apresentando. É melhor que eles aprofundem bem e que só repassem ao final da investigação. Entender a motivação é essencial porque pode determinar até uma mudança do enquadramento penal, ou inclusão de outros tipos penais — diz a delegada.
Embora não detalhe o motivo, a delegada descarta que os sequestradores pretendessem extorquir a família, que tem origem mais humilde. Em entrevista ao portal ND Mais, a mãe de três filhos, que teve contato com os dois após eles se aproximarem oferecendo ajuda, contou que eles relatavam que iriam adotar uma menina com idade entre dois e quatro anos.
Nas redes sociais, o casal mantinha perfis relacionados à vida saudável. Ele se apresentava como proprietário de uma academia. A casa usada como cativeiro seria a moradia do casal, que é natural de Santiago, no Rio Grande do Sul, mas reside em Santa Catarina há alguns anos.
A mãe da menina também é gaúcha, natural de Santa Maria, na Região Central. No entanto, conforme a polícia, não há até o momento nenhuma evidência de que os sequestradores já conhecessem a família previamente. O homem tem dois registros por violência doméstica no RS, mas nunca foi preso. Já a mulher presa não possui ocorrência anterior ao caso. Os dois tiveram a prisão convertida em preventiva pela Justiça, por solicitação da Polícia Civil.
Cuidados
Segundo a delegada, esse tipo de caso é pouco comum na Grande Florianópolis, sem registros de episódios semelhantes recentemente. Ainda assim, ela orienta os pais para que fiquem atentos, evitem expor os filhos nas redes sociais.
— Hoje é difícil, todos têm redes sociais. Acaba sendo forma de contato com familiares, amigos. Mas evita a exposição demasiada, não informe detalhes da rotina, não passe endereço para a pessoa que não conhece. Se seu filho tem idade que pode manipular redes sociais, monitore esse acesso. Pessoas mal-intencionadas usam perfis falsos, com fotos de criança, para atrair outras crianças — diz.
Para os pais e responsáveis que forem procurados por pessoas oferecendo ajuda, ela também alerta:
— Tem muita gente que quer ajudar mesmo. Mas sempre analise com quem está falando, se possível, marque um encontro para receber ajuda num momento em que não esteja sozinho, em horário de movimento. Procure saber quem é a pessoa. Essas pequenas coisas podem ajudar a não acontecer esse tipo de situação.
A menina após ser resgatada foi entregue de volta para a família, que se mudou da casa em razão do trauma. A criança não chegou a sofrer ferimentos, mas passará por acompanhamento psicológico.