Quem nunca levou o celular para a cama - com a desculpa de que vai servir como despertador - e, antes de dormir, deu uma conferida no Facebook ou no Instagram? E o que seria uma visualização rápida, acaba tomando horas do tempo que deveria ser para o descanso.
Essa situação, além de outros problemas gerados pelo uso excessivo da tecnologia, estão se tornado cada vez mais comum.
Para o psiquiatra e professor de medicina da UnB Raphael Boechat, a insônia é um dos sintomas de quem passa tempo demais em frente às telas. O estímulo visual contínuo e a atenção aos conteúdos trabalhados tendem a prejudicar o sono, uma vez que o cérebro demora um tempo para diminuir as atividades, explica.
Além do sono, a psicóloga Sylvia van Enck, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, afirma que o excesso de tempo no computador influencia em outras funções psicológicas e mesmo físicas. A pessoa pode ter problemas com postura e problemas na visão, entre outros. Mas são as questões sociais que costumam ser as mais prejudicadas.
- Quem comete exageros pode desenvolver fobia social, recusando o contato real com outras pessoas, além de depressão, transtorno de ansiedade e dificuldade no controle da impulsividade - explica.
Apesar dos riscos do uso excessivo, o professor de psicologia da UnB Fábio Iglesias afirma que não se deve atribuir à tecnologia a causa dos transtornos sociais e psicológicos.
- Esses problemas sempre existiram. Os aparelhos apenas lhes conferem uma nova roupagem. Por exemplo, antigamente havia pessoas compulsivas por olhar a caixa postal. Hoje, temos aquelas que checam o e-mail a cada meia hora. O medo de novas invenções também não é exclusivo dos tempos atuais.
- Costumamos fazer um paralelo com o que já aconteceu, como o surgimento da TV. Na época, muitos diziam que a TV poderia viciar as pessoas. Mas hoje temos a consciência de que o televisor não é um vilão - aponta Iglesias.
Para o psicólogo, o bom senso é um forte aliado para que o usuário de aparelhos móveis se policie quanto ao uso.
- A pessoa tem que perceber quando se torna inconveniente ou prejudicial a si mesmo e aos outros. Durante as aulas, no cinema ou no meio de conversas, usar celulares, tablets ou computadores é desagradável e pode incomodar quem estiver em volta.
Sintomas de dependência
Ao fazer estudos sobre pessoas que sofriam com dependência da internet, a psiquiatra norte-americana Kimberly Young identificou algumas situações comuns:
- Preocupação excessiva com a internet (por exemplo, com o próximo acesso à rede)
- Necessidade de usar a internet com tempo cada vez maior, a fim de obter a excitação desejada
- Esforços repetidos e fracassados no sentido de controlar, reduzir ou cessar com o uso da internet
- Inquietude ou irritabilidade, quando tenta reduzir ou cessar o uso da internet
- Permanecer mais tempo on-line do que pretendia
- Colocar em risco ou perder um relacionamento significativo, o emprego ou uma oportunidade educacional ou profissional por causa de jogo ou internet
- Mentir para familiares, para o terapeuta ou outras pessoas para encobrir a extensão do seu envolvimento com a internet
- Usar a internet como forma de fugir de problemas ou de aliviar o humor disfórico (por exemplo, sentimentos de impotência, culpa, ansiedade e depressão).
Outros problemas
Apesar de não serem reconhecidas por todo o corpo científico, alguns estudiosos apontam doenças decorrentes da dependência por dispositivos eletrônicos. Algumas são:
Síndrome da vibração fantasma
Quem nunca acreditou sentir o celular vibrando no bolso quando na realidade isso não ocorreu? Essa sensação é chamada de Síndrome da Vibração Fantasma. A principal razão para que isso aconteça, segundo estudiosos, é que o cérebro tenta se antecipar a uma ação recorrente, o vibrar do aparelho no caso, mas acaba por ser enganado por qualquer movimento que se assemelhe a ele.
Nomofobia
Manter-se conectado a todo tempo é uma preocupação que atinge cada vez mais pessoas. A necessidade de uma parcela de indivíduos passa ser incontrolável. Médicos ingleses passaram a chamar essa dependência de nomofobia. O nome vem de "no mobile phobia", que, em uma tradução livre, seria o medo de estar sem celular.
Laptopordos
Com a chegada dos ultrabooks, que são mais leves, essa doença tende a diminuir. No entanto, para quem usa os pesadões laptops deve tomar cuidado. Carregá-las de um lado para o outro causa dores nas costas, nas juntas e pode levar a danos aos nervos e à coluna. »Wiiite': mais comum há alguns anos, essa condição se deve ao uso intenso do console Nintendo Wii, que possibilita ao jogador uma série de exercícios, e gerar lesões por esforço repetitivo. Hoje, outras plataformas oferecem o mesmo esquema, como o Kinect, do Xbox, e o Move, do Playstation.
Tecnologia
Saiba quando o uso de aparelhos eletrônicos vira vício
Fobia social e depressão são algumas das doenças que estão por trás do uso exagerado de celulares, notebooks e outros eletrônicos
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