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O contrato bilionário para a construção de quatro navios cargueiros não é a redenção da Metade Sul, mas representa uma mudança de perspectiva para o município de Rio Grande, abalado pelo desmonte do Polo Naval à época do Plano Rio Grande. Por isso, a segunda-feira (24) está sendo tratada como histórica pela prefeita Darlene Pereira (PT), que assumiu o cargo em 1º de janeiro.
A retomada do Polo Naval, mesmo que ainda em caráter precário e com menos empregos do que teve nos anos de fartura, também anima os moradores de Pelotas, cidade que na eleição de 2024 deu a vitória a Fernando Marroni (PT). A proximidade e a afinidade entre os dois municípios fazem com que a saúde financeira de um impacte na economia do outro.
Na época de ouro (década de 2010), o Polo Naval chegou a empregar 12 mil trabalhadores. De diferentes lugares do Brasil chegavam operários atraídos pelos bons empregos. A cidade fervilhava na hora do almoço e nos finais de tarde. Foi um período de crescimento do comércio e dos serviços, mas o sonho não durou.
Com a Lava-Jato e as denúncias de corrupção, o Polo Naval entrou em colapso. Hoje, restaram apenas 200 trabalhadores, que executam operações menores, como desmanche e reparos em embarcações. A previsão é de pouco mais de mil empregos no início, mas a expectativa da prefeita Darlene é de ampliação no número de vagas com a contratação de novos projetos.
Do ponto de vista político, o investimento em Rio Grande é simbólico para Lula e o PT. Isso explica a presença de tantos deputados do partido na assinatura dos contratos. Pelotas e Rio Grande deram vitória a Lula no primeiro e no segundo turnos de 2022. No confronto direto com Bolsonaro, o placar pró-Lula foi de 107.854 a 83.962 em Pelotas, e 72.258 a 39.996 em Rio Grande.
Em 2024, o PT elegeu, além dos prefeitos de Pelotas e Rio Grande, o de Bagé, Luiz Fernando Mainardi. Relembrando: em Bagé, Lula e seus simpatizantes foram corridos a relho quando ele fez uma caravana marcada pela rejeição em municípios do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná.
O fato de Bolsonaro não ter feito qualquer obra de vulto na região (a duplicação da BR-116 até hoje não foi concluída) explica os resultados favoráveis a Lula na Zona Sul. Com os investimentos anunciados agora, o presidente retribui a confiança e prestigia os líderes políticos da região, como os prefeitos e o deputado Alexandre Lindenmeyer, ex-prefeito de Rio Grande.
Para mostrar a importância dos investimentos, Lula levou para Rio Grande não só a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, mas o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira. Não é comum o presidente e o vice viajarem para a mesma cidade, mas Alckmin é ministro do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio.
Aliás
As vaias ao vice-governador Gabriel Souza em Rio Grande foram a reprise de um comportamento primitivo que petistas exibem desde o primeiro governo Lula. Gabriel estava no evento representando o governo do Estado e deveria ter sido tratado com respeito, como manda a boa educação.