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Edison Capp (*), Elisa Reinhardt Piedras (**) e Sérgio Hofmeister Martins Costa (***)
Nos últimos 150 anos, a idade média da primeira menstruação (menarca) tem diminuído progressivamente, marcando o início da vida fértil feminina. Durante o século 19, ocorria, em média, entre os 16 e 17 anos. Em 1920, já havia caído para 14 e 15 anos, e desde a segunda metade do século 20 situa-se em torno dos 12 e 13 anos.
Diversos estudos apontam para fatores como dieta, gordura corporal, sedentarismo, fumo, álcool, estresse e história familiar, mas ainda não há consenso sobre as causas exatas.
Paralelamente, a expectativa de vida e a idade da última menstruação (menopausa) aumentaram. No século 19, a expectativa de vida urbana média era de 40 a 50 anos, enquanto hoje, em países com alto grau de desenvolvimento, varia entre 70 e 85 anos.
A menopausa ocorre, atualmente, entre 45 e 55 anos, o que elevou o número de ciclos menstruais de cerca de cem para aproximadamente 400 ao longo da vida, com implicações significativas para a saúde e o bem-estar das mulheres.
Contexto sociocultural e estigma
Para os homens, o sangue geralmente remete a guerras, ferimentos ou doenças, enquanto, para as mulheres, menstruar simboliza renovação. O contexto sociocultural molda as vivências menstruais.
Convenções sociais, crenças culturais, práticas tradicionais e sintomas, como cólicas e alterações de humor, influenciam como a menstruação é vivida. Acesso a produtos menstruais e cuidados de saúde adequados são essenciais, especialmente em países de baixa renda.
Vergonha, estigma e falta de acesso a banheiros adequados afetam negativamente a saúde mental de meninas e mulheres
O contexto sociocultural tem forte influência na forma como as mulheres e meninas experimentam a menstruação. Normas sociais, crenças, sintomas físicos e psicológicos, como cólicas, fadiga e alterações de humor, e hábitos tradicionais podem impactar significativamente a maneira como a menstruação é percebida e vivenciada em diferentes comunidades.
Além disso, a disponibilidade de recursos financeiros e acesso a produtos menstruais e cuidados de saúde adequados desempenham um papel fundamental nas experiências menstruais das mulheres de baixa e média renda.
Vergonha, estigma e falta de acesso a banheiros adequados afetam negativamente a saúde mental de meninas e mulheres. A falta de recursos menstruais pode levar ao absenteísmo escolar e até ao abandono precoce dos estudos, comprometendo também a participação social e profissional. O estigma em torno da menstruação cria barreiras no trabalho e na sociedade.
Aspectos como práticas menstruais, gestão de vazamentos e odor requerem abordagens integradas para melhorar a saúde feminina. Linguagem inclusiva na discussão sobre saúde menstrual é vital para abordar todas as dimensões dessa experiência.
O tabu em torno do tema
Discussões recentes sobre "justiça menstrual" destacam a necessidade de enfrentar o tabu em torno do tema, ainda ignorado por muitos homens, apesar de ser vivido por metade da população.
Além disso, falar sobre menstruação é essencial para prevenir gestações precoces. Dados mostram que áreas com menos saneamento básico apresentam maiores taxas de gestação em meninas de 10 a 14 anos, reforçando a importância de banheiros públicos com higiene, privacidade e segurança adequadas. Banheiros femininos deveriam considerar duchas higiênicas e cabines adaptadas, atendendo às necessidades específicas das mulheres.
Para promover a compreensão, homens e mulheres precisam dialogar sobre menstruação, superando barreiras culturais e construindo pontes de empatia. Falar sobre o tema é uma questão de saúde, igualdade, justiça e dignidade, beneficiando toda a sociedade.
(*) Jornalista e médico. Professor de ginecologia e obstetrícia da UFRGS
(**) Professora do Pós-Graduação em Comunicação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunição (Fabico) da UFRGS
(***) Médico, professor de ginecologia e obstetrícia da UFRGS. Membro Titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Parceria com a Academia
Este artigo faz parte da parceria firmada entre Zero Hora e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM) em março de 2022. Uma vez por mês, o caderno Vida publica conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos da entidade, que completou 30 anos em 2020, conta com cerca de 90 membros de diversas especialidades (oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia, otorrinolaringologia etc.) e atualmente é presidida pela endocrinologista Miriam da Costa Oliveira, professora e ex-reitora da UFCSPA.