O que seria necessário para convencê-lo a se exercitar? O desejo de perder peso ou melhorar a aparência? Evitar doenças cardíacas, câncer ou diabetes? Reduzir a pressão sanguínea ou o colesterol? Proteger os ossos? Viver de forma saudável até uma idade avançada?
Seria de se pensar que qualquer um desses motivos bastaria para levar os norte-americanos a se exercitarem, mas os resultados dos estudos mostram outra coisa.
Aparentemente, os especialistas em saúde pública, médicos e as pessoas dedicadas ao exercício na mídia - como eu - estão usando táticas ineficientes para motivar os sedentários a se tornarem e permanecerem fisicamente ativos.
Há décadas as pessoas são bombardeadas com mensagens segundo as quais o exercício regular é necessário para perder peso, prevenir doenças graves e estimular o envelhecimento saudável. E, sim, uma grande maioria de norte-americanos - dois terços dois quais estão com sobrepeso ou são obesos - ainda não conseguiu engolir a "pílula do exercício".
Agora, pesquisa levada a cabo por psicólogos sugere fortemente que está na hora de parar de pensar na saúde futura, perda de peso e imagem corporal como motivadores. Em vez disso, os especialistas recomendam a estratégia que os marqueteiros utilizaram para vender produtos: descrever a atividade física como forma de aprimorar o bem-estar e a felicidade atuais.
- Nós precisamos tornar o exercício relevante na vida diária das pessoas. A agenda de todo mundo está entulhada com afazeres sem-fim. Somente podemos acrescentar o que for essencial - diz Michelle L. Segar, pesquisadora do Instituto para Pesquisa sobre Mulheres e Gênero da Universidade de Michigan.
Reformulando a mensagem
Segar faz parte do grupo que acredita que as pessoas não irão se dedicar ao exercício se virem seus benefícios como distantes ou teóricos.
- Ele deve ser apresentado como um comportamento atraente que pode nos beneficiar agora. Quem diz se exercitar pelos benefícios à vida cotidiana se exercita mais ao longo do ano do que quem diz valorizar o exercício pelos benefícios à saúde - comenta.
Eis sua ideia para uma campanha publicitária pública voltada a promover o exercício para mulheres que trabalham fora e têm família: uma mulher é exibida caminhando ao redor da quadra após o jantar com os filhos e diz: "Que maravilha. Consigo me exercitar, passar um tempo agradável com meus filhos e, ao mesmo tempo, lhes ensinar como os exercícios são importantes".
Baseada em estudos sobre o que motiva as pessoas a adotar e manter a atividade física, Segar pede aos especialistas que parem de definir o exercício moderado como uma receita médica a qual exige 150 minutos de atividade aeróbica por semana. Em vez disso, as autoridades da saúde pública devem começar a enfocar "os aspectos emocionais pelos quais é essencial adequá-lo a suas vidas frenéticas".
- Recompensas imediatas são mais motivadoras do que as distantes. Sentir-se feliz e menos estressado é mais motivador do que não ter doença cardíaca ou câncer, talvez, algum dia no futuro - ensina a pesquisadora.
Num estudo com 252 trabalhadores de escritório, David K. Ingledew e David Markland, psicólogos da Universidade do País de Gales, constataram que enquanto muitos começam a se exercitar como forma de perder peso e melhorar a aparência, tais motivações não os mantêm se exercitando a longo prazo. De acordo com a conclusão dos pesquisadores, "os benefícios do bem-estar e prazer do exercício deveriam ser enfatizados".
Segar explica da seguinte forma:
- A atividade física é um elixir da vida, mas não ensinamos isso às pessoas. Nós lhes dizemos que é uma pílula a ser tomada ou uma punição pelos números ruins na balança. Manter a atividade física é uma questão motivacional e emocional, não médica.
Outros estudos mostraram que o que faz as pessoas levantarem da cadeira e continuarem se mexendo depende da idade, gênero, circunstâncias da vida e até mesmo da etnia. Para universitários, por exemplo, a atratividade física geralmente leva a uma lista de motivos para começar a se exercitar, embora o que os faz continuar pareça ser o alívio do estresse proporcionado por um programa de exercícios regulares.
Já os idosos, por sua vez, podem começar em função de preocupações de saúde. Contudo, o que costuma mantê-los em atividade são as amizades, a sensação de comunidade e camaradagem que de outra forma não estariam presentes em suas vidas - como visto com facilidade entre as mulheres grisalhas que comparecem fielmente às aulas de hidroginástica na minha unidade local da ACM.
Num estudo recente com 1.690 homens e mulheres de meia-idade com sobrepeso ou obesos, Segar descobriu que melhorar o bem-estar diário era o fator mais influente para as mulheres da pesquisa. Os homens indicavam estar mais motivados por benefícios de saúde mais distantes, embora Segar suspeite que seja assim porque os homens se sentem menos à vontade para discutir as necessidades de sua saúde mental.
- O que nos sustenta, nós sustentamos. Nós precisamos promover o que os marqueteiros chamam de 'lealdade do consumidor'. Precisamos ajudar as pessoas a se manterem envolvidas com o movimento ensinando-as como o exercício pode ajudar a sustentá-las ao longo de suas vidas - diz Segar.
Valor além da perda de peso
Muitas pessoas, se não a maioria, começam a se exercitar porque desejam perder peso, mas muitas largam a ginástica quando os quilos não caem. Estudos seguidos constataram que, sem grandes mudanças nos hábitos alimentares, aumentar a atividade física só ajuda até certo ponto na perda de peso, embora auxilie a manter a perda de peso, e queimar apenas alguns quilos, principalmente ao redor da cintura, pode melhorar a saúde.
Por exemplo, pesquisadores de Brisbane, Austrália, e Leeds, Inglaterra, estudaram 58 homens e mulheres sedentários com sobrepeso ou obesos que participaram de um programa de exercícios aeróbicos monitorados de perto. A perda de peso foi mínima, porém as cinturas dos participantes encolheram, a pressão e a frequência cardíaca em repouso diminuíram, e a capacidade aeróbica e o humor melhoraram.
"O exercício deveria ser incentivado e a ênfase na redução de peso, reduzida", concluíram os pesquisadores. "Decepção e baixa autoestima associadas com pouca perda de peso poderiam levar à baixa adesão aos exercícios e à percepção geral de que estes são fúteis e não benéficos."
Eu caminho cinco quilômetros ou pedalo 16 quilômetros e nado 1,2 quilômetro por dia. Se me perguntarem o motivo, o controle do peso pode ser minha primeira resposta, seguida pelo desejo de ter uma vida boa e longa. Contudo, não é isso que me tira da cama antes do alvorecer para encontrar amigas para uma caminhada matinal e depois pedalar até a ACM para nadar.
O importante é como essas atividades me fazem sentir: mais energizada, menos estressada, mais produtiva, mais envolvida e, sim, mais contente - mais capaz de ter um tempo para cheirar as rosas e lidar com as frustrações inevitáveis da vida cotidiana.