Um evento científico marca os 10 anos de funcionamento do Hospital Dom Vicente Scherer, centro de transplantes do Complexo Hospitalar Santa Casa, de Porto Alegre. Criado para concentrar os serviços de transplantes que já funcionavam em outras áreas da Santa Casa, este é o único hospital da América Latina que atende todos os tipos de transplantes possíveis e foi construído para atender exclusivamente esse tipo de procedimento.
De acordo com o diretor médico do Dom Vicente Scherer, José Camargo, a construção do centro de transplantes demonstra o reconhecimento da importância desse atendimento pela comunidade, uma vez que a obra foi financiada principalmente por empresários gaúchos.
- No congresso, esses empresários serão homenageados, e queremos prestar contas a eles e à comunidade científica sobre a qualidade do trabalho que temos feito no hospital - diz Camargo.
O Congresso de Transplantes começa nesta quinta-feira, no Centro de Eventos do Hotel Plaza São Rafael, e segue até sábado. Especialistas em transplantes vindos de países como França, Espanha e Estados Unidos, além de profissionais brasileiros, estarão no evento para conhecer o trabalho realizado na Capital. Profissionais de todas as áreas estarão no congresso para trocar experiências com os experts convidados.
Captação de doadores no RS precisa melhorar
Ao mesmo tempo em que comemora os 4,6 mil pacientes transplantados no Dom Vicente Scherer nesses 10 anos, Camargo chama atenção para a necessidade de aumentar o número de doações no Estado.
- Precisamos colocar o Rio Grande do Sul de novo na posição de destaque que tinha em número de doadores por milhão de habitantes - projeta.
Segundo o médico, o RS tem hoje mais doadores do que quando era líder do ranking, porém cresceu muito menos do que outras regiões. Um exemplo citado pelo médico é Santa Catarina. Há seis anos, o Estado vizinho tinha oito doadores por milhão de habitantes. Atualmente, são 27 por milhão. Além de ser líder nacional em doações de órgãos, a média catarinense supera a dos Estados Unidos.
Um dos problemas apontados por Camargo é a não comunicação da morte cerebral à central de transplantes.
- A parte médica está carente. Sem comunicar a morte cerebral, a família não tem a chance nem de dizer se quer ou não doar os órgãos - comenta o médico.
Outra falha no sistema é a falta de uma logística que permita mais agilidade ao atendimento pela equipe da Secretaria da Saúde que faz a captação.
- Tem gente que desiste de doar os órgãos por causa da demora para liberação do corpo do familiar que morreu - ilustra Camargo.
Entenda o procedimento
:: Quando um paciente tem morte cerebral, o médico deve comunicar a Central de Transplantes da Secretaria Estadual da Saúde - cada Estado tem uma central.
:: Após a comunicação, uma equipe treinada pela Secretaria deve fazer a abordagem com os familiares do paciente para verificar se há interesse na doação de órgãos.
:: Uma vez consentida a doação, profissionais habilitados procedem a retirada dos órgãos que serão disponibilizados para transplante.
:: Todo esse processo deve ocorrer em tempo hábil para que os órgãos ainda estejam viáveis para transplante e que a espera da família pela liberação do corpo seja reduzida.