Não é novidade para entidades que representam áreas da saúde que o Índice de Massa Corporal (IMC) não é suficiente para aferir obesidade no indivíduo, conforme o mais novo paradigma divulgado por uma comissão de cientistas em artigo na revista The Lancet. Há respaldo de que o mais correto para um resultado preciso sobre gordura corporal é avaliar também outros fatores, como alterações que já afetam o bem-estar.
O Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers) destaca que os médicos mais atualizados já não se baseavam apenas no clássico cálculo da divisão do peso pela altura ao quadrado para entender se um paciente acima do peso tem a saúde comprometida.
— O profissional que está sempre se atualizando e aperfeiçoando não avalia só pelo IMC, avalia também a circunferência abdominal, a distribuição de gordura no corpo e, principalmente, o que a obesidade está causando nos órgãos, desde o sistema nervoso central, coração, fígado, rim, etc. Isso já vinha sendo discutido há vários anos nos congressos de cirurgia bariátrica — diz o cirurgião bariátrico Manoel Roberto Maciel Trindade, coordenador das Câmaras Técnicas do Cremers, professor de cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e responsável pelo grupo de cirurgia bariátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Artigo assinado por 58 cientistas e referendado por 75 organizações médicas ao redor do mundo chega a um consenso de que o Índice de Massa Corporal (ICM), sozinho, não traz resultados precisos sobre obesidade, sendo mais adequado aliar essa ferramenta a outros métodos, como aferição da circunferência abdominal, relação cintura-quadril e cintura-altura e exames como densitometria (Dexa) ou bioimpedância.
Representante do Conselho Regional de Educação Física da 2ª Região (CREF2-RS), Alessandro de Azambuja Gamboa diz que há muito já se sabia que o IMC não serve para avaliar a gordura corporal, pois educadores físicos lidam com atletas de alto rendimento, como fisiculturistas.
— Se usarmos o IMC num fisiculturista, o resultado será de obesidade em grau elevado, por causa do peso e da altura dessa pessoa. São pessoas que podem pesar 120 kg e ter baixa estatura, com pouca gordura, mas muito peso na balança — observa.
Para os educadores físicos, o recomendado é que a pessoa faça uma avaliação física completa que vai considerar outros parâmetros além do IMC.
— Podem ser avaliadas as dobras cutâneas e solicitado um exame de bioimpedância. Mas o que interessa é que esses parâmetros sejam refeitos depois de alguns meses a partir do início do treino, para ver o que foi alterado — diz Gamboa.
O Conselho Regional de Nutrição da 2ª Região (CRN-RS) reforça que a avaliação da circunferência abdominal, cuja importância foi ressaltada no consenso dos especialistas, já era uma prática adotada entre nutricionistas e que agora torna-se ainda mais necessária.
— É fundamental a verificação da circunferência abdominal, porque é ela que vai mostrar a concentração de gordura que prevê riscos cardiovasculares. Isso já era uma prática clínica e sua importância, agora, só foi reforçada. A avaliação do tecido de massa magra e gordura também é muito necessária, assim como exames que mostrem se a obesidade está afetando a saúde — diz a nutricionista Heloísa Theodoro, professora de Nutrição da Universidade de Caxias do Sul (UCS), representante do CRN-RS.