Com a chegada de um novo integrante, a família toda passa por novos desafios. A rotina é alterada em função dos cuidados com a criança, que exige atenção em tempo integral. O acompanhamento nos primeiros seis anos, período conhecido como a primeira infância, é crucial para o desenvolvimento desse indivíduo em todas as etapas seguintes.
A primeira infância pode ser subdividida entre o período de recém-nascido, no primeiro mês, seguido por lactante, enquanto está em fase de amamentação (idealmente, até os dois anos), para chegar até a idade pré-escolar. Todas as etapas são muito importantes, especialmente os três primeiros anos.
— Há uma mudança de paradigma nas últimas décadas. Até os anos 1980, dava-se muita importância ao desenvolvimento motor, como firmar a cabecinha aos três meses, sentar com seis, engatinhar com nove e caminhar com um ano. Eles continuam importantes, mas hoje se dá mais atenção aos marcos de linguagem e socialização — explica o pediatra do desenvolvimento Ricardo Sukiennik, médico cooperado da Unimed Porto Alegre.
Embora todos os marcos sejam importantes nesse grande checklist, alguns acendem um sinal de alerta um pouco mais forte. Um dos mais tradicionais é o caminhar, que deve começar entre os 11 e os 15 meses. Até um ano e meio, a criança também deve falar pelo menos duas ou três palavras.
Cada indivíduo tem seu tempo, mas se alcançar essas etapas sem cumprir os requisitos mínimos, uma investigação deve ser feita. Esse atraso pode significar um problema de neurodesenvolvimento mas, também, pode ser resultado apenas de uma falta de estímulo ou uma peculiaridade da criança. No entanto, só quem pode definir isso é o pediatra – e, em casos de maior complexidade, especialistas em determinada área.
Com um ano recém-completado, Nicole visita regularmente o pediatra Roberto Issler, médico cooperado da Unimed Porto Alegre, ainda que não demande nenhum cuidado específico – pois, segundo o médico, desenvolve-se muito bem. A rotina inclui uma alimentação equilibrada, com complemento vitamínico indicado por Issler, e atividades lúdicas em casa e na creche.
— Sempre tentamos ter todos os grupos alimentares, conforme orientação da nutricionista. À tarde, vamos até a creche caminhando, explicando para ela tudo o que está acontecendo ao redor — conta a mãe, Camila Greggianin.
A gente não tem que ter limite? Tem, sim. Ela precisa saber quais são as regras do jogo que ela está jogando. Naquela fase de aprendizagem, tenta extrapolar algumas coisas, é o papel da criança. Mas temos que impor regras, de forma que isso transmita tranquilidade.
MARCELO BORGES LEITE
Médico cooperado da Unimed Porto Alegre
As causas que mais levam as crianças aos consultórios estão relacionadas a problemas alimentares e respiratórios. O primeiro exige atenção aos hábitos alimentares. O leite materno e, na ausência dele, as fórmulas infantis constituem fontes ricas em nutrientes essenciais. Já no trato respiratório, a sazonalidade do clima sulino aumenta a ocorrência de bronquiolite e de outros eventos ligados a vírus.
— A qualidade do ar e do ambiente em que o bebê brinca e dorme é muito importante. Fumaça e poeira são ruins. Às vezes é um bicho de pelúcia encardido, assim como bater a colcha e o colchão, que levantam poeira. É preciso combater a poeira onde ela brinca e dorme. E, principalmente, evitar a fumaça — alerta Sukiennik, citando casos de cigarro e, também, de lareira, churrasqueira ou fogão a lenha, que necessitam de boa exaustão para o bebê não sentir o cheiro de fumaça.
Desenvolvimento neurológico
Um dos pontos de atenção é justamente o neurodesenvolvimento, que pode ser acompanhado por um psiquiatra da infância e da adolescência. É o caso do médico Marcelo Borges Leite, cooperado da Unimed Porto Alegre, que defende um ambiente adequado para que a criança se desenvolva.
Por ambiente adequado, entende-se o cuidado com a nutrição, tranquilidade e liberdade.
— A gente não tem que ter limite? Tem, sim. Ela precisa saber quais são as regras do jogo que ela está jogando. Naquela fase de aprendizagem, tenta extrapolar algumas coisas, é o papel da criança. Mas temos que impor regras, de forma que isso transmita tranquilidade — garante.
Uma rotina tranquila também inclui a dosagem das atividades que a criança vai desenvolver. Nicole, por exemplo, já tem contato com alguns estímulos.
— Ela tem aulas de música e psicomotricidade, que acreditamos serem importantes para o desenvolvimento cognitivo — exemplifica o pai da menina, Fernando Scolari.
Se a criança não está conseguindo dar conta do trivial, o algo a mais vai se tornar insuportável. Quando já consegue, aí sim pode ir para natação ou às aulas de inglês, mas precisa haver limite.
— A gente observa muito que os pais querem superfilhos, colocam-os em tudo, fica aquela semana absolutamente lotada de atividades e a criança não tem tempo para o ócio, brincar. Isso também acaba estourando em algum momento e aparecendo, clinicamente, nas crianças com nível de estresse altíssimo. Veja o que o filho consegue fazer, o que ele está fazendo com prazer — sugere o médico.
Cuidados com a alimentação
A alimentação adequada da criança começa ainda na gestação. Entre as recomendações, estão o consumo de peixes, ricos em ácidos graxos, importantes para o desenvolvimento cerebral do bebê.
Ao nascer, o aleitamento materno se encarrega de entregar tudo que a criança precisa. A seguir, vem a introdução alimentar, que pode ser definitiva para os hábitos daquele indivíduo pelo resto da vida.
A dica do especialista é que, com muito cuidado, os responsáveis levem a criança a contemplar todos os grupos alimentares. Se oferecer muitas opções de alimento todo dia, ela acaba escolhendo – e pode optar sempre pelo mesmo grupo e desenvolver predileção por ele. Outro erro comum é compensar com um alimento que não oferece nutrientes.
— Se a criança comer bem, pode comer sorvete de sobremesa. Ela tem que entender que a alimentação é essa. Senão, entende que dizendo não para legumes, vai comer bolacha. Aí prefere dizer não. Isso é muito frequente, as crianças captam rapidamente — exemplifica.
A alimentação também está diretamente relacionada à saúde bucal. Neste aspecto, os principais marcos de desenvolvimento são o nascimento dos dentes de leite e as trocas dentárias, em paralelo à fase oral, que é quando levam os objetos à boca.
Enquanto lactante, antes do primeiro dente, a criança não tem risco de cárie. Nesse período, não se preconiza a higiene bucal, nem mesmo com gaze.
A partir do primeiro dente – que, muitas vezes, coincide com a introdução alimentar –, há risco de cárie e é preciso higienizar com escova e pasta fluoretada.
— Ela pode ter contato com a escova, mas quem precisa fazer é o adulto, independentemente de ter uma certa resistência. A maturidade do que precisa ser feito deve ser do adulto. É indicado que se faça duas vezes ao dia, mas depende da rotina da família — pondera a especialista em odontopediatria Manoela Fritscher.
Ela conta que gosta de trabalhar em parceria com nutricionistas porque o estilo de vida da criança detecta quem ela será em termos de saúde.
Marcos de desenvolvimento para acompanhar (e se emocionar)
Segundo cartilha da Sociedade Brasileira de Pediatria, os marcos de desenvolvimento de uma criança são avaliados sob quatro aspectos. Dentro disso, há dezenas de itens que devem ser contemplados. Confira alguns exemplos:
Marcos sociais/Emocionais
Dois meses:
- Acalma-se ao conversar ou pegá-lo no colo
- Olha para seu rosto
12 meses:
- Joga com você, como o parceiro de jogo
Dois anos:
- Nota quando os outros estão magoados ou chateados
Quatro anos:
- Finge ser um personagem ao brincar (professor, super herói, cachorro)
- Evita o perigo, como não pular de alturas altas no playground
- Muda o comportamento baseado em onde ele está (local de culto, biblioteca, playground etc)
Marcos de Linguagem/Comunicação
Dois meses:
- Emite outros sons diferentes de chorar
12 meses:
- Acena “adeus”, “tchau”
- Chama “mamã” ou “papá” ou outro nome especial
- Entende o “não”
Dois anos:
- Aponta para as coisas em um livro quando você pergunta
- Diz pelo menos duas palavras juntas, como “mais leite”
Quatro anos:
- Diz frases com quatro ou mais palavras
- Fala sobre pelo menos uma coisa que aconteceu durante o seu dia
Marcos Cognitivos
Dois meses:
- Observa enquanto você se move
- Olha para um brinquedo por vários segundos
12 meses:
- Coloca algo em um recipiente, como um bloco em um copo
- Procura coisas que vê você esconder
Dois anos:
- Segura algo em uma mão enquanto usa a outra mão
- Tenta usar interruptores e botões em um brinquedo.
Quatro anos:
- Nomeia algumas cores de objetos
- Conta o que vem a seguir em uma história bem conhecida
Marcos de movimento/desenvolvimento físico
Dois meses:
- Mantém a cabeça erguida quando está de bruços
- Move os dois braços e as duas pernas
12 meses:
- Caminha apoiado nos móveis
- Bebe com um copo sem tampa, enquanto você o segura
Dois anos:
- Chuta uma bola e corre
- Sobe (não escala) até algumas escadas com ou sem ajuda
Quatro anos:
- Serve a si mesmo comida ou água, com supervisão de adultos
- Segura lápis entre os dedos e o polegar (não no punho)
* Produção: Padrinho Conteúdo