Novecentas e sete árvores estão sendo derrubadas em trecho de 38,5 quilômetros da BR-116, entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
No canteiro central da Avenida Zaida Jarros, na zona norte da Capital, é possível ver os tocos de vários exemplares cortados e até pilhas de troncos sob a alça do viaduto nas imediações do aeroporto Salgado Filho e da superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no bairro Anchieta.
A remoção das árvores integra o lote 1 das obras de melhorias da BR-116. Responsável pela intervenção, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) afirma que "esta supressão é necessária para ampliação da via, que passará a ter três pistas em cada sentido, ao invés das duas pistas que existem atualmente."
Segundo o Dnit, até o momento foram suprimidas 74 plantas. O órgão diz que haverá compensação ambiental e que "serão replantadas em torno de 8 mil mudas nativas, em local ainda a ser definido".
Como se trata de intervenção em rodovia federal, a supressão das árvores foi autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), após análise de laudo de cobertura vegetal.
O Dnit explica ainda que o "valor dos serviços no trecho é de aproximadamente R$ 10,7 milhões e o prazo de conclusão para 2025."
Entidade fala em "genocídio ecológico"
A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) afirma que acompanha com preocupação a remoção de árvores em vários lugares do Rio Grande do Sul.
Conforme o presidente da entidade, Heverton Lacerda, a situação atual não pode ser entendida como isolada.
— É um modelo de desenvolvimento ecocida que está sendo encaminhado. Temos considerado o ecocídio, ou seja, um suicídio ecológico coletivo, um genocídio ecológico — diz.
Para a Agapan, o ideal seria manter as árvores no local e desviar as intervenções viárias dos exemplares.
— Não é uma certeza que 8 mil mudas se tornarão 900 árvores de novo, pode ser menos. E o tempo que isso vai demorar? Enquanto tiramos árvores adultas em pleno serviço ecossistêmico para depois trocar por mudas em locais que, normalmente, não dizem onde vai ser — questiona Lacerda.
O que diz o Ibama
Nesta sexta-feira (27), a reportagem de Zero Hora questionou o Ibama sobre a autorização para o corte das árvores, o processo de replantio e se foi cogitada a possibilidade de transplantar os vegetais para outro espaço. Até esta publicação, não houve resposta.