Desde o começo de agosto, a merenda é dúvida em escolas da rede municipal de ensino de Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Justificando falta de recursos, a Secretaria Municipal de Educação (Seduc) passou a racionar os alimentos destinados às instituições. Essenciais à produção dos lanches e do almoço, a entrega dos alimentos perecíveis foi interrompida nesta semana. Pelo menos uma escola suspendeu as refeições até que a situação seja normalizada.
– Foi uma redução drástica. Primeiro, faltou a carne e os outros perecíveis. Agora, estamos só com o que tem em estoque. Infelizmente, não tem como fazer merenda. Não temos alternativa. Avisamos aos pais para não ficar chato. De um modo geral, é um constrangimento – disse José Ricardo Boss, diretor da Escola Municipal de Ensino Fundamental Fidel Zanchetta.
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Segundo Boss, foi a primeira vez nos 17 anos em que trabalha na escola que a falta de alimentos impediu o lanche dos alunos – ainda há pacotes de feijão, arroz e massa, mas a falta de vegetais e carne dificulta o preparo. No começo da semana, a direção enviou um bilhete aos pais alertando para o problema. O texto informa que, "a partir de quinta-feira, dia 17/08/2017, não haverá café da manhã, almoço nem lanche da tarde". O motivo, segundo o recado, é a falta de verba da prefeitura. Conforme o diretor, entre 10 e 15% dos 580 alunos da escola contam com as refeições servidas no local.
– Mandaram o bilhete, mas não sabemos muito bem o que está acontecendo e nem nos deram previsão de quando volta ao normal. Tem crianças que vão à aula por causa da merenda. Sei que alguns dos alunos que levam de casa que estão dividindo com quem não tem. Mas é uma situação complicada – relatou a auxiliar administrativa Marcela Rodrigues, mãe de um aluno.
Na maior escola do município, a Emef Portugal, o racionamento também já afeta as refeições dos mais de 1 mil estudantes. Segundo o diretor, Márcio Balbinot, os biscoitos que restavam em estoque esgotaram nesta quinta-feira. A partir de amanhã, o café da manhã e o lanche da tarde, que costumavam servir pão, biscoito ou fruta, terão apenas leite com achocolatado. Enquanto durarem os estoques.
– O almoço ainda temos como preparar: tem arroz e feijão, e temos uma horta comunitária com couve e alface. Mas não sabemos como vai ser quando acabar. Estamos de mãos atadas – disse Balbinot.
Vereadores aprovaram verba de R$ 1,5 milhão para merenda
Conforme a Seduc, o racionamento de alimentos foi provocado pela crise financeira do município. Além disso, a pasta teria herdado uma dívida de quase R$ 500 mil da gestão anterior com fornecedores, o que dificultou a obtenção de alimentos. Segundo a secretária Rosa Lippert, foi feita uma reunião com as direções das escolas para comunicar a falta de recursos e "orientar" as escolas a economizarem.
– Até então, estávamos distribuindo os alimentos que tínhamos em estoque, de acordo com a demanda das escolas. Nesta semana, acabou tudo. A orientação que demos é que fosse oferecido o possível. Cada diretor fez a gestão do seu jeito: algumas escolas fizeram reunião e aceitaram outras doações, outras não quiseram – disse.
A titular da Educação de Cachoeirinha disse não ter conhecimento de que uma escola suspendeu a merenda – mais tarde, a ela informou que a Emef Fidel Zanchetta não havia solicitado alimentos. Ao todo, as 34 escolas e três creches comunitárias da rede municipal atendem quase 10 mil alunos no turno parcial, em que são oferecidos lanche e almoço, e pouco mais de 2 mil no turno integral, que conta com quatro refeições.
Nesta semana, um projeto de lei do Executivo para a liberação de R$ 1,5 milhão para a merenda escolar foi aprovado na Câmara de Vereadores. O dinheiro será realocado do Salário Educação, um fundo utilizado para serviços de manutenção nas escolas. Conforme a Secretaria de Educação, a situação deve começar a ser regularizada na próxima semana.