
Primeiro presidente eleito após a redemocratização do Brasil, Fernando Collor de Mello, hoje com 75 anos, se envolveu em várias polêmicas ao longo de sua vida política. O ex-presidente e ex-senador foi preso nesta sexta-feira (25), em Maceió, após ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
A condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro se soma a uma série de outros escândalos envolvendo Collor. Relembre alguns deles:
Confisco da poupança
A crise econômica brasileira que antecedeu a implementação do Plano Real foi um dos panos de fundo para o lançamento do Plano Collor, em 1990. O programa tinha como objetivo frear a inflação, que chegava a 84%. A proposta, contudo, pegou a população de surpresa ao promover confiscos da poupança dos brasileiros.
O plano suspendeu o acesso da população a cadernetas e outros rendimentos financeiros. Na época, a medida foi comunicada pela então ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello.
O plano ficou marcado como uma das medidas econômicas mais impopulares já aplicadas no país. Cerca de 80% do dinheiro investido ficou retido no Banco Central por 18 meses, provocando revolta da população.
Fiat Elba
A abertura do processo de impeachment contra Collor teve como estopim a compra de uma camionete Fiat Elba Weekend 1991 em nome do então presidente. A aquisição do carro teria sido feita com dinheiro desviado por Paulo César Farias, o PC Faria, tesoureiro da campanha de Collor, e viabilizada em nome de um funcionário fantasma.
Uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), instaurada para apurar irregularidades, trouxe a informação à tona. Em julgamento em 1994, contudo, o SFT entendeu que as provas eram insuficientes para condenar Collor.
Caras pintadas

O somatório de descontamentos em relação ao governo Collor motivou uma articulação nacional que pedia pela destituição do então presidente. A mobilização ficou conhecida por "Caras Pintadas".
Comandada por jovens e estudantes, a população foi às ruas e ajudou a pressionar os parlamentares a instaurarem o processo de impeachment na Câmara dos Deputados, em 1992.
Impeachment
Em meio aos protestos dos Caras Pintadas que ganhavam força em todo o Brasil, a Câmara dos Deputados instituiu uma Comissão Especial, em setembro de 1992, para analisar as denúncias contra Collor por crime de responsabilidade.
Por 441 votos a favor e 38 contra, os deputados afastaram o presidente do cargo para responder ao processo. O posto foi assumido pelo então vice-presidente, Itamar Franco.
Em dezembro do mesmo ano, enquanto o processo tramitava no Senado, Collor renunciou ao cargo para escapar da destituição.
A manobra não deu certo, e no dia seguinte à renúncia, o impeachment foi aprovado, com perda de mandato e inelegibilidade por oito anos. Foi o primeiro presidente a ser afastado temporariamente por um processo de impeachment no país.

Especial Rádio Gaúcha: o impeachment de Collor
PC Farias
“Testa de ferro” de uma série de irregularidades operadas durante o governo Collor, Paulo César Farias, o PC Farias, teve participação crucial para a derrocada do ex-presidente. Ex-tesoureiro da campanha de Collor, PC Farias foi acusado de articular suposto esquema de desvio de dinheiro.
Em entrevista à revista Veja que repercutiu na época, o irmão do então presidente, Pedro Collor, afirmou que PC operava um sistema de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e concorrências fraudulentas. Diante do escândalo, o ex-tesoureiro chegou a fugir do país, mas foi preso na Tailândia. PC acabou sendo encontrado morto em Maceió em 1996 ao lado de sua namorada, Susana Marcolini. O caso foi tratado como crime passional.
Casa da Dinda
A reforma nos jardins do imóvel conhecido como Casa da Dinda, em zona nobre de Brasília, gerou polêmica pelo valor e pela origem do dinheiro. A obra, orçada em US$ 2,5 milhões, teria sido bancada com dinheiro de contas fantasmas e administradas por PC Farias e ganhou holofotes no ano do impeachment do ex-presidente, em 1992.
Rituais
As polêmicas envolvendo Collor voltaram à cena em 2012, quando a ex-primeira-dama Rosane Collor afirmou que preparava um livro de memórias sobre o período da presidência. Entre os temas, Rosane revelava que o marido participava de rituais de magia na residência oficial do casal em Brasília, a Casa da Dinda.
Lava-Jato
Em 2023, Collor foi condenado pelo STF por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava-Jato. O ex-presidente foi acusado de receber R$ 20 milhões em propinas em negócios da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, entre 2010 e 2014.
Boa pinta
Bem apessoado, Collor conquistou confiança do eleitorado também pela aparência. Com a alcunha de "caçador de marajás", o ex-presidente valorizava atributos como jovialidade, beleza e coragem para fazer política "sem fazer política". Segundo estudiosos políticos, a persona de boa pinta ajudou Collor a ganhar respaldo na corrida presidencial eleição. Com frequência era fotografado praticando corrida, karatê e andando de jet-ski.
Amizade com Bolsonaro
De volta à vida política a partir de 2006, como senador, Fernando Collor declarou apoio incondicional ao ex-presidente Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2022. Juntos, os políticos aglutinaram forças para buscar apoio no cenário nacional.
Collor deixou claro o seu apoio a Bolsonaro em manifestações pelas redes sociais e em convenções partidárias. A prisão do caçador de marajás nesta sexta-feira agitou a oposição como um “recado” em meio à possibilidade de condenação de Bolsonaro.