
Em pronunciamento na tarde desta quarta-feira (26) em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que as acusações da Procuradoria-Geral da República (PGR) que lhe tornaram réu por cinco crimes, incluindo tentativa de golpe de Estado, são "infundadas". Mais cedo, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) acatou a denúncia contra o ex-presidente e sete aliados.
— Parece que tem algo pessoal contra mim. A acusação é muito grave. São infundadas e não é da boca para fora. Eu vou demorar um pouco, mas tem muitas novidades para vocês — disse à imprensa no início da tarde.
O ex-presidente contestou uma fala do ministro Alexandre de Moraes, em que o ministro teria afirmado que "500 pessoas assinaram um acordo de não persecução penal". Conforme Bolsonaro, o nome dele nunca foi citado.
— O senhor Alexandre de Mores fala que 500 pessoas aproximadamente assinaram não persecução penal, um acordo. Ele disse que, no acordo, essas pessoas admitiam que estavam indo para um golpe. Quinhentas pessoas se programando para um golpe e ninguém sabia? (...) Esse acordo, ninguém cita o meu nome, 500 pessoas e ninguém cita o meu nome — afirmou.
Bolsonaro afirmou que sofre perseguição "pessoal" de Moraes e que, se não tivesse deixado o Brasil após as eleições de 2022, quando viajou para o Exterior, estaria "preso ou morto".
— Se eu tivesse devendo qualquer coisa, eu não estaria aqui. Fui para os Estados Unidos, graças a Deus, que se tivesse aqui em janeiro (de 2022), estaria preso até hoje ou morto — disse.
O capitão reformado afirmou também que, ao contrário do primeiro dia de julgamento, na terça-feira (25), não compareceu ao STF nesta quarta, porque "sabia o que ia acontecer" e que a decisão de ontem foi de última hora.

Críticas às urnas, a Lula e a Moraes
Bolsonaro também voltou a contestar, sem provas, a confiabilidade das urnas eletrônicas e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
— Eu não sou obrigado a acreditar e confiar em um programador — afirmou.
Em outro momento, ele dirigiu críticas nominalmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, citando o aumento de preços de alimentos. Além disso, falou que Moraes "bota o que quer" nos processos judiciais relatados por ele e que por isso "seus inquéritos são secretos ou confidenciais".
Bolsonaro aproveitou o pronunciamento para ler um trecho discurso que fez em 2022 após eleição de Lula. Ele reclamou que a sua fala não foi incluída por Alexandre de Moraes no inquérito.
O ex-presidente disse ainda que colaborou com a transição do governo após o fim das eleições, que atuou para impedir obstrução de vias por caminhoneiros e pediu por manifestações ordeiras e que não era obrigado a passar a faixa presidencial para Lula.
— As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda que sempre prejudicaram a população como invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir — leu o ex-presidente, retomando discurso de 2022.
O ex-presidente também rebateu a denúncia da PGR que o acusou de ter convocado comandantes das Forças Armadas para consultá-los para uma eventual ruptura democrática por uma decretação de estado de sítio. Segundo o ex-presidente, um golpe jamais seria concretizado a partir de um mecanismo constitucional.
— Nem atos preparatórios houveram para isso, se é que para você trabalhar com dispositivo constitucional é sinal de golpe. Golpe não tem lei, não tem norma. Golpe tem conspiração com a imprensa, o parlamento, setores do poder Judiciário, setores da economia, fora do Brasil. Forças Armadas em primeiro lugar, sociedade, empresários, agricultores. Aí você começa a gestar um hipotético golpe, nada disso houve — disse Bolsonaro.
Entrada "facilitada" de invasores
O ex-presidente também afirmou que a entrada dos invasores de 8 de janeiro de 2023 ao Palácio do Alvorada "foi facilitada".
— Dormem aqui embaixo por volta de 60 militares armados. Alguém viu algum soldado armado nesse dia? Facilitaram a entrada deles (dos invasores). Não resta dúvida — disse.
O capitão reformado ainda criticou a imprensa brasileira, que teria exibido apenas a imagem de um invasor com uma camisa estampada com o rosto dele derrubando o relógio do Palácio.