A entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (30) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou, segundo ele, uma nova forma de comunicação com os jornalistas. Lula afirmou que quer, a partir de agora, um canal mais aberto com os profissionais. No encontro com a imprensa, foram tratados assuntos variados, como a realização da COP30 no Pará, a elevação da Selic, as críticas ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a relação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumento do petróleo, orçamento de 2025 e derivados e o equilíbrio das contas públicas.
O encontro foi aberto com a afirmação de que 2025 "é o mais importante do governo, pois marca o início da grande colheita de tudo o que foi plantado em 2023 e 2024".
Após, Lula afirmou que o Brasil fará o maior encontro da história do Brics e uma COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) "forte" para que o evento não fique "desmoralizado".
Em seguida, o presidente brasileiro destacou que confia no presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e que ele "tomou a decisão que considerou mais adequada". Após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) a Selic subiu um ponto percentual e alcançou 13,25% ao ano, resultado que era esperado por especialistas.
Sobre a possibilidade de aumento do petróleo, Lula afirmou que não foi comunicado pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard, sobre possível reajuste do diesel. Segundo ele, "quem autoriza aumento do petróleo e derivado do petróleo é a Petrobras, e não o presidente".
— Não autorizei aumento do diesel. Desde meu primeiro mandato, aprendi que quem autoriza aumento do petróleo e derivado do petróleo é a Petrobras e não o presidente. Ainda não fui avisado se ela vai aumentar ou não, e ela não precisa me avisar. Se tiver decisão de que para a Petrobras é importante fazer o reajuste, ela que faça e comunique a imprensa —completou.
Lula argumentou, ainda, que um eventual aumento do preço do combustível não faria com que chegasse ao valor de dezembro de 2022 (no fim do governo Bolsonaro) reajustado pela inflação desse período.
Já no final da entrevista coletiva, Lula foi questionado sobre o equilíbrio das contas públicas e garantiu que "não houve rombo fiscal no governo". Ele atribuiu o rombo fiscal à gestão anterior. O presidente também frisou que, devido à tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio do ano passado, o país não registrou superávit:
— No governo anterior, houve um rombo fiscal de quase 2,6%, mas no nosso governo isso não ocorreu. Na verdade, se não fosse o caso do Rio Grande do Sul, teríamos registrado superávit pela primeira vez em muitas décadas.
— É importante lembrar que eu já fui presidente da República e cheguei a fazer um superávit de 4,25%, o que demonstra seriedade na gestão. Agora, o que não posso fazer é impor sacrifícios ao povo mais humilde para atender aos interesses de poucos — completou.
De acordo com o presidente, a nova meta do governo é a política tributária que vai entrar em vigor em 2027 e "com ela, podemos ter muito mais capacidade de investimento e arrecadação".
"Não há outra medida fiscal"
Conforme o presidente Lula, o orçamento de 2025 está sendo pensado e será aprovado com todas as restrições possíveis para qualquer gasto.
— Não há outra medida fiscal no momento. Se durante o ano surgir a necessidade de tomar alguma ação, reuniremos o governo para discutir. Mas, posso garantir que, se depender de mim, não haverá outra medida fiscal.
Ele complementou dizendo que o foco é no desenvolvimento sustentável do país, "mantendo a estabilidade fiscal e garantindo que o povo pobre não pague o preço de uma irresponsabilidade fiscal".
Relação com Trump
Lula criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou intenção de retirar o país do Acordo do Clima de Paris:
— Trump acabou de anunciar a saída do Acordo de Paris, mas os Estados Unidos já não haviam cumprido o Protocolo de Quioto. Ou seja, os países se comprometeram a destinar US$ 100 bilhões por ano para os países em desenvolvimento e até hoje não cumpriram esse compromisso. Agora, a necessidade é de US$ 1,3 trilhão, e tenho certeza de que não irão cumprir. Nosso pessoal, os ambientalistas, reduziram a meta para US$ 300 bilhões, mas, novamente, não acredito que cumpram.
Questionado pelo colunista de Zero Hora Matheus Schuch sobre a possibilidade de os Estados Unidos taxarem os produtos brasileiros, Lula respondeu que, se Trump taxar, "haverá reciprocidade no Brasil, com a taxação dos produtos exportados para os Estados Unidos".
— Taxar esses produtos não é difícil, não há nenhuma dificuldade nisso. Já governei o Brasil tanto com presidentes republicanos quanto com presidentes democratas, e minha postura sempre foi a mesma: a de um estado soberano tratando com outro estado soberano.
Lula disse, ainda, que deseja melhorar a relação do Brasil com os Estados Unidos e "exportar mais se necessário, importar mais se necessário, e seguir com uma relação que já dura 200 anos".
Possível anúncio de Gleisi Hoffmann como ministra
Na quarta-feira (29), o nome da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, foi ventilado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência. No entanto, durante a entrevista, Lula não confirmou a informação e se limitou a dizer que não houve nenhuma tratativa do tipo entre os dois:
— Ela tem competência para ocupar muitos cargos de ministra, mas, até agora, nada está definido. Não conversei com ela, ela não conversou comigo, e ainda não sentei para avaliar se farei mudanças em alguns ministérios — frisou o presidente.